Não o Levarás Contigo (You Can’t Take It with You, 1938)

Não o Levarás Contigo é uma história com elementos clássicos: jovem casal apaixonado, de origens distintas – um de origem mais humilde, outro abastado – que tenta, opondo-se ao mundo, seguir em frente com o seu amor. Shakespeare para principiantes. Contudo, o que torna este filme tão bom são as personagens: são tão ricas que fazem com que o foco mude, a partir deste par, para questões mais profundas sobre como viver a vida e ser feliz.

Alice Sycamore (Jean Arthur) é estenógrafa na empresa de A. P. Kirky (Edward Arnold), um magnata da banca que pretende concluir um enorme negócio. Para concluir este negócio, Kirky necessita de comprar a casa de Martin Vanderhof (Lionel Barrymore), um espírito livre que se recusa a separar-se da sua propriedade, seja qual for a quantia de dinheiro oferecida. Vanderhof é o avô de Alice e Alice está apaixonada pelo filho de Kirky.

Lionel Barrymore é um actor inesquecível. É inevitável reconhecer a sua forma única de representar (tal como o Spoon elogiou na crítica a Grand Hotel) e, sempre que está em cena, rouba toda a atenção, fazendo o espectador escutar cuidadosamente cada linha – um talento pouco comum, mas de valor incalculável. A acrescentar a isto, a personagem de Barrymore – Martin Vanderhof – é também a mais interessante do filme, um fator adicional que torna impossível retirar os olhos do actor. Uma menção honrosa deve ser feita a uma personagem que é brilhante, apesar do pouco tempo de antena a que tem direito. Se o Spoon tiver de ir a tribunal, esta colher deseja que o juiz seja interpretado por Harry Davenport, só pelo brilhante trabalho desempenhado nos poucos minutos de representação em que esteve presente.

Mas esta não é uma obra sem falhas. Há duas formas de contar uma história: por um lado, pode-se mergulhar directamente na acção, e através dos papéis que cada personagem desempenha na acção é possível perceber quem é quem e quais os interesses subjacentes a indivíduos ou grupos. Por outro lado, pode-se gastar algum tempo com uma narrativa mais lenta e comedida, com vista a estabelecer o status quo das várias personagens e da questão em causa para a história. No caso de Não o Levarás Contigo, a segunda opção foi a escolhida, mas, infelizmente, foi levada ao extremo: a primeira metade do filme pouco faz e pouco acrescenta, tornando-se aborrecido ao ponto de se tornar frustrante, o espectador não evita pensar “Este filme é bom, mas chato”. O Spoon recomenda paciência e café porque a segunda metade vale a pena a espera, a qualidade continua, novos atores (como Harry Davenport) aparecem e tudo aquilo que a primeira parte prometeu sem conseguir cumprir é agora entregue aos resistentes.

Veredito: É uma obra com uma boa mensagem e boas lições de vida que as personagens tentam aprender umas com as outras e que, no fundo, ditam o desenvolver da acção. Não o Levarás Contigo é um filme divertido, cheio de talento, bons momentos e rico em comédia, tanto tola como inteligente.

 

 

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