Destaques do Mês
  • The Conjuring 2 – A Evocação
  • Sugestão para Domingo à Tarde #36: Out of Africa (Sydney Pollack, 1985)
  • A Rainha do Deserto (Queen of the Desert, 2015)
Data
25 August 2016
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Pasolini (2014)

Pasolini é cortês e pacífico, não oferece escândalos nem teorias descabidas. É apenas o relato quase factual de um dia e uma rotina abruptamente interrompidos. Mas o filme de Abel Ferrara também é acato em demasia, sem um pingo de ousadia ou espírito revolucionário e destabilizador – muito pouco parecido com o escritor e cineasta que pretende retratar.

Pier Paolo Pasolini foi e é um símbolo de controvérsia artística, da arte como uma arma contra o conservadorismo e o poder opressivo. As suas palavras e versos foram e são escandalosos, os seus filmes polémicos, a sua pessoa despertava os mais intensos ódios e a sua morte foi sem dúvida uma morte à altura, imprevisível, violenta e misteriosa.

Mas falta, em Pasolini, muito deste homem que se acaba de descrever. O filme de Ferrara não pretende ser sobre a vida ou sobre a morte do cineasta italiano – os acontecimentos são mesmo tratados de forma superficial e desapegada, Dafoe um mero veículo, dando maior destaque às palavras, pensamentos e ideais de Pasolini. No entanto, numa preocupação excessiva em expor a ‘cabeça’ do artista, o ‘Ferrara fã’ sobrepôs-se ao ‘Ferrara realizador’ e Pasolini é algo receoso e desorientado.

As ideias estão lá e estão brilhantemente sintetizadas quer se fale de totalitarismo, opressão, consumismo ou a morte anunciada da simplicidade e do humano; a visão de Pier Paolo é recriada de forma bastante credível com as imagens do que podiam ter sido Petróleo e Porno-Teo-Kolossal (o romance póstumo e o filme que Pasolini deixou por fazer, respetivamente); mas a realização é tímida e demasiado cautelosa – quase custa acreditar que este é o mesmo homem que nos trouxe  Welcome to New York.

Pasolini é uma tentativa – não há outra palavra que se possa usar – e, apesar de acertar em certos aspetos, não será algo memorável nem destacável no currículo de Abel Ferrara.

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