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Os 10 Filmes Mais Perturbadores de Sempre – Part I

Um top destes género é sempre um exercício muito pessoal de perceção. Aqui o que se procurou não foi o choque pelo choque, mas uma construção mais complexa que grafica ou filosoficamente choca o espectador.

É um exercício difícil, e garantidamente, muitos outros mereciam estar aqui. Mas a colher é soberana e este é o Top de alguns dos autores do site. A ordem não é relevante.

Rui Pedro

Antichrist (Lars von Trier, 2009)

Quando não há mais espaço no inferno, o Anti-Cristo caminha na Terra. Começando pela sinopse: um casal perde o filho recém-nascido, depois deste se atirar da janela dum prédio, durante uma das várias sessões de sexo desenfreado (e absorto) dos pais – talvez a criança não aguentasse nem mais um segundo ver o pénis do Willem Dafoe. Nós sem essa sorte.

Uma película engendrada em vários aspetos para destabilizar o bem-estar, Antichrist carrega em si uma atmosfera e simbologia verdadeiramente desconfortáveis, trabalhando horrivelmente as temáticas da sexualidade, misoginia, depressão, e luto com uma amargura insanitária que por ocasião se apelida de Lars von Trier. Talvez não chegue ao nível de Martyrs, ou Saló, mas pela descarga sangrenta do amigo de Dafoe e o corte a pente -1 das partes íntimas de Gainsbourg, Antichrist recebe um lugar especial no meu coração dos filmes mais perturbadores que já vi.

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Martyrs (Pascal Laugier, 2008)

1h05m. Fade to black. “Eu não sei se estou preparado para o que vem a seguir.”

1h22m. “Bem, isto podia ter sido pior.”

1h23m. Bloco operatório de improviso. “Uh-oh.”

Martyrs é um filme muito especial. Poderíamos até dizer que se transcende e se torna um filme excecional. Pequena inside joke.

É difícil categorizar este fenómeno e justificar o que o espectador acabou de ver: Perturbador? Sim. Conteúdo violento, física e psicologicamente? Sim. Muito perturbador? Podem crer. Mas o mais desconcertante será o facto de ser um filme genuinamente bom e interessante, que nos deixa curiosos para o que vem a seguir. Somos levados a crer que não é o nosso torture porn quotidiano feito exclusivamente para chocar a audiência, e procuramos uma resposta que dê sentido ao que somos presenteados. No final, essa resposta poderá muito bem ser o aspeto mais conturbado desta película.

Martyrs

Cannibal Hollocaust (Ruggero Deodato, 1980)

“John, I want this material burned. All of it.”

Se houver alguma bastardização da sétima arte perversa o suficiente para transfigurar a sala de cinema num festival snuff, o Cannibal Holocaust é um forte concorrente. A chafurdar repetidamente na violência, na mutilação, abuso animal – desprezivelmente cometido na realidade e exibido na íntegra – e violação, as imagens queimadas na retina deixam a saudade pelo canibalismo em si…

A exposição é uma constante inabalável no grindhouse, e, junto com o realismo abominável das suas encenações, não há como admirar que Ruggero Deodato tenha vindo parar frente a um tribunal italiano para provar que não tinha morto os happy campers de verdade.

Na altura, Deodato quis retratar a decadência moral da imprensa sensacionalista pela violência, e algures desde então, pesquisou a palavra ironia no dicionário, e hoje arrepende-se de ter feito este filme. Que magnífico aborto de película!

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Cláudia Oliveira

The Machinist (Brad Anderson, 2004)

O que é que o vocalista da banda 9 inch nails e o escritor Dostoyevsky têm em comum? Nada, além de terem servido de inspiração e influência para criar a personagem Trevor Reznik do filme O Maquinista, numa das melhores interpretações da carreira do ator Christian Bale – e do cinema de culto “obscuro”. A história: um homem, um ano de insónias, alucinações, uma mente frágil num corpo cadavérico (resultado de uma dieta extrema de Bale, que só comia uma maçã por dia e um café, que resultou em menos 30 quilos e muitos problemas de saúde), um acontecimento acidental e muita culpa. Ingredientes perfeitos para um dos melhores thrillers psicológicos de culto que já assisti. E é assim – a par com a genialidade da atuação de Bale – que se faz um bom filme.

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OldBoy (Chan-wook Park, 2003)

Não sei até que ponto este filme pode ser descrito por palavras, mais do que o sentimento com que nos deixa após vê-lo. Se tivesse de escolher uma palavra, seria violento. É um filme muito violento, mas não é uma violência gratuita nem física. Mexe connosco, no estômago. É um bocadinho Kafkaesco, uma história de vingança sedenta, de descoberta de um homem que ficou afastado do mundo durante muito tempo e que perdeu tudo. A interpretação do ator Coreano Choi Min-sik é demasiado verdadeira, demasiado carnal e assustadora. É um filme muito completo e muito inesperado. Manteve-se comigo muitas semanas após tê-lo visto e, se tiver de escolher um filme que tenha mexido mais com o meu ser, foi este. OldBoy tem um remake americano de 2013.

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