THE SIGNAL - 2014 FILM STILL - Laurence Fishburne stars as Dr. Wallace Damon - Photo Credit: Ursula Coyote/Focus Features

The Signal (2014)

The Signal, de 2014, é o segundo filme de William Eubank enquanto realizador, após largos anos ao leme da cinematografia. Normalmente sinto que há algo em falta nas criações do cinematógrafo tornado realizador e depois do último (e único) trabalho de Wally Pfister, enquanto nesse papel, fico algo reluctante em dar uma hipótese a esses filmes. Mas ainda bem que o fiz.

Ainda a partilhar competências de argumentista, William Eubank, junto com Carlyle Eubank e William Frigerio, escrevem-nos uma história de 3 jovens adultos a percorrer a estrada estadunidense rumo à mudança nas suas vidas; umas mais literais que outras. Este tema metamorfoseia-se primeiro numa tensa perseguição de um antagonista hacker que provoca a curiosidade dos amigos Jonah e Nic, respectivamente representados por Beau Knapp e Brenton Thwaites. Com Haley (Olivia Cooke) no lugar de espectadora desta breve loucura, vemos os restantes protagonistas encontrar mais do que estariam preparados para receber. E como se a boca do inferno tivesse sido inadvertidamente aberta, a cascata de eventos que daí se desenlaçam acompanha uma contínua mudança de tom e cenário durante o filme, num thriller em constante desenvolvimento. Divulgar mais sobre o enredo seriam spoilers imperdoáveis, mas atesto que seja qual for o balanço final de cada espectador, é difícil negar a originalidade presente neste pequeno e forte indie.

De facto, talvez a maior divisão entre espectadores será a dos que acham que a evolução de atmosfera e tema contribui para dividir o filme, torná-lo episódico e enfraquecê-lo, e a dos que regozijam nesta modesta mixórdia enquanto factor enriquecedor da história. Pessoalmente, fiquei satisfeito com o efeito assim obtido. Não em menor parte pela capacidade de realização e montagem do filme. The Signal carrega uma quantidade avulsa de planos e ideias, o que pode muito bem tornar-se fatal à consistência da narrativa visual e sobrecarregar-nos de experiência, de tal forma a se perder o norte ao puxar o olhar para várias direcções. Mas neste caso, o encadeamento merece todos os louvores, pois mantém um fluxo saudável e inteligível, que carrega a história, fazendo parecer com que muita coisa se esteja a decorrer, sem transtornar o ritmo. Uma qualidade fulcral para um contador de histórias que é o realizador. E algo que não obteremos sem o crédito devido ao editor Brian Berdan, colega de Eubank no filme Love.

Continuando na temática de mistura e evolução constante, é um deslumbre assistir à quantidade e diversidade de registos visuais presentes ao longo da película. Quiçá, dos ganchos mais fortes em The Signal será mesmo a camaleónica cinematografia creditada a David Lazenberg e sem dúvida influenciada pela vasta experiência de Eubank enquanto cinematógrafo. Uma maravilha visual de composições ambiciosas e uma rica palete de cores, que contribui por sua vez para ainda mais polarizar opiniões: aos que são capturados pela sua intensa qualidade e para os que a acham uma distracção exagerada face à qualidade narrativa. O que dificilmente poderemos negar é a quantidade de planos significantes, interessantes e belos que advêm desta arte imagética.

O elenco é também bastante competente nas suas interpretações, seja em papéis protagonistas, em personagens menores ou em cabeças de cartaz já cimentadas na indústria do cinema, como é o caso de Laurence Fishburne. Se houver, no entanto, algum defeito que possa tomar um papel decisivo na avaliação do espectador, é o argumento que estes actores interpretam. Criativo, bem encadeado e interessante, deixará ainda assim algum desencanto com a importância das personagens de Cooke e Knapp no esquema global do enredo, assim como algumas lacunas por preencher, com um final em que terei pouca confiança em considerar satisfatório, depois de todas as pontas soltas que deixa. O que não será exclusivamente negativo, se da dúvida surgir discussão.

Rui Paulino

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