Destaques do Mês
  • The Conjuring 2 – A Evocação
  • Sugestão para Domingo à Tarde #36: Out of Africa (Sydney Pollack, 1985)
  • A Rainha do Deserto (Queen of the Desert, 2015)
Data
25 August 2016
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A Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015)

Spielberg é um contador de estórias/histórias nato: pega em personagens carismáticas, mune-se de um contexto adverso, e junta um tom moralista e um final feliz, que nos enche de esperança.

Enquadra-se na visão de cinema enquanto alienador da realidade e energizador de felicidade. Aqui, a realidade, e as mensagens encriptadas não contam. Mas a verdade é que a receita funciona – quem nunca chorou com ET e A Lista de Schindler.

Em A Ponte dos Espiões, temos a típica história de superação “Spielbergiana”, sendo certo que a receita antiga, resulta com estrondo novamente.

Para isso os méritos são repartidos: Irmãos Coen assumem a batuta do argumento, Thomas Newman (Os Condenados de Shawshank) assina a banda sonora e Janusz Kaminski mantém a tutela da cinematografia.

Quanto ao enredo propriamente dito, o mesmo segue James B. Donovan, um advogado de seguros que, em plena guerra fria, é destacado para defender um espião russo, Rudolf Abel. Se assim a vida deste americano já não se avizinhava fácil, tudo se complica quando James é “convidado” pelo governo dos EUA para negociar a troca entre o espião russo e o seu homónimo americano, recentemente apanhado.

Ora, isto só poderia ser uma missão para Tom Hanks, uma das pessoas mais consensuais em Hollywood e o tipo que toda a gente queria para pai dos filhos – nem que seja só para os criar, enquanto o público feminino se diverte com os “Clooney” desta vida.

E não é que o sacana do Hanks consegue novamente ser convincente? Se alguém poderia desempenhar o papel deste advogado que aceitou o caso que mais ninguém ousou aceitar, e que tratou a pessoa mais odiada da América com humanidade, só poderia ser Mr. Hanks. E aqui chegamos ao y da equação, Mark Rylance, o actor que desempenha o espião russo mais irónico e empático do cinema. Rylance é talvez o melhor do filme, o seu ar estoico e sarcástico consegue transformar tensão em risos inositados. Só por estes dois já tínhamos uma obra acima da média.

Para além disso, é sempre refrescante ver um filme em que não se ouvem gritos metafóricos “Fuck Yeah America”, e em que a Rússia não se limita a ser o inimigo maldoso e sem coração. Aqui ambos os lados são retratados de forma imparcial, sendo a questão política, inteligentemente, colocada de lado, em favor da história de fundo.

Depois da superação temos a conclusão e, à boa maneira de Spielberg, sabemos sempre em cada passo o que vai acontecer a seguir, e ansiamos pelo mais que antecipado final feliz. Pomos de lado o facto de o argumento ter sido injetado em modo fast-food, focado na ação e dando pouca importância às dificuldades e dúvidas de alguém que de repente se torna persona non grata por estar a “defender um inimigo”, e no final recebemos aquilo que queremos: felicidade, conclusão, closer. Depois voltamos para as nossas vidinhas com o coração cheio e a querer que o Tom Hanks seja pai dos nossos filhos (ou no meu caso, que seja a ama dos meus).

Resumindo: Spielberg a ser Spielberg serve-nos um Menu completo, com todos os ingredientes que fazem as pessoas quererem ir ao cinema.

  • João Peixoto

    Acabo agora de ver. O filme tem selo de aprovação João Peixoto

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