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Everybody Wants Some!! (Todos Querem o Mesmo, Richard Linklater, 2016)

Linklater é inconfundível – aborda a passagem do tempo na vida de pessoas normais e, até estereotipando as suas personagens, capta os momentos chave da sua vida. Não procura enredos intricados, não usa efeitos especiais, não pensa naquele 1 em 1 milhão que fugiu a todas as expectativas, encontra a magia da simplicidade e nunca a mostra como contentamento. Representa a reflexão que cada um faz sobre o sentido da vida da mesma maneira que o podemos fazer numa conversa com amigos e não como uma análise metafísica toda hipster para ninguém perceber. Fê-lo em Dazed and Confused (1993), história do último dia de liceu dos finalistas de um secundário no Texas, nos anos 80; fê-lo em Boyhood (2014) relatando o crescimento de Mason; e mantém-no em Everybody Wants Some!!, quando nos mostra o primeiro fim-de-semana na faculdade de um caloiro (e pode ser pensado como uma espécie de sequela dos dois anteriormente referidos).

O protagonista (Blake Jenner) está acabadinho de chegar da santa terrinha e é integrado na equipa de basebol. Vivem todos juntos, tipo fraternidade, e estão na faculdade para jogar e aproveitar a vida – é necessariamente mais animado do que Boyhood e mais jovial do que a trilogia (Before Sunrise/Sunset/Midnight). Ainda assim, Linklater não escapa aos seus característicos debates sobre a preciosidade do momento e da juventude, sobre os valores e a identidade de cada um e a importância da camaradagem. Aparentes excessos de profundidade – que servem para transmitir as mensagens transversais na obra do realizador e que de facto passam pela cabeça até dos mais desmiolados dos jocks – são rapidamente resolvidos com respostas típicas de adolescentes, mantendo os diálogos genuínos, outra imagem de marca de Linklater.

Blake Jenner, que apareceu pela primeira vez em 2012, como vencedor da segunda edição do Glee Project e personagem nas últimas e bizarras temporadas de Glee, é uma agradável surpresa. Ninguém sugere “força, deem-lhe o óscar”, mas pelo menos podem-lhe dar… papéis. O restante elenco desempenha bem o seu papel de equipa de basebol universitária, a viver numa fraternidade, com muito álcool e miúdas. Se a patetice que às vezes irrita é falta de qualidade na representação ou retrato realista de um grupo verdadeiramente irritante terá de se descobrir nos desempenhos futuros destes atores. São também o alvo da principal crítica ao filme (ainda que a culpa não seja sua) – nota-se um desajuste entre a idade dos atores e a das personagens que interpretam (tipo Morangos com Açúcar), com algumas exceções, como Blake Jenner e Zoey Deutch.

Inevitavelmente comparável a Dazed and Confused, o filme de culto de Linklater, Everybody wants some!! tem o cunho distintivo do realizador, abre horizontes para dois ou três novos atores, como a obra de ’93 fez com Matthew McConaughey ou Milla Jovovich, é mais consensual do que Boyhood e merece, sem dúvida, a ida ao cinema.