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  • A Rainha do Deserto (Queen of the Desert, 2015)
Data
25 August 2016
Nurse 3D

Enfermeira 3D (Nurse 3D, 2013)

É sabido, pelos anais da literatura, que a escolha do título é chave marcante para a disposição de toda a obra. Fyodor Dostoyevsky, o mítico escritor e filósofo russo, escolhia títulos curtos, mas impactantes, para nomear as suas mais carismáticas obras – O Jogador, O Duplo, O Idiota, entre outros.

Foi na senda de tão importantes lições deixadas pela literatura clássica que Douglas Aarniokoski, o realizador do filme no qual se debruça a presente crítica, resolveu chamá-lo Enfermeira 3D.

Enfermeira 3D retrata – excelsamente, se me for permitido afirmar – as vicissitudes de uma profissão que há muito nos assola o inconsciente coletivo: uma alma bondosa que serve de apoio, mas cuja alva farda esconde toda uma lascívia fantasiada em inúmeros filmes do género pornográfico.

Paz de la Huerta, a enfermeira Abby Russell, surpreende tudo e todos com a ilusão de estar todo o filme sobre o efeito de estupefacientes – diria mesmo que a performance é merecedora do Óscar “Melhor atriz a interpretar uma característica que não pertence à personagem retratada”. Abby é uma enfermeira que expõe e se vinga fatalmente dos homens adúlteros que caem na armadilha da sua sensualidade. No entanto, Douglas Aarniokoski rapidamente se apercebeu de uma terrível falha – como colocar uma cena lésbica (fraquinha) apenas com esta premissa?

Deste modo, é Danni (Katrina Bowden) que vai servir de enfermeira frágil e alvo de obsessão por parte da vilã Abby. Principiando como colegas, as duas desenvolvem uma relação que tem a sua apoteose com a ajuda de Ritalin e que termina com o desmascarar do lado homicida de Abby por parte de Danni. Não convém deixar de lado a parábola relacional escondida por detrás deste cenário: os verdadeiros podres de uma relação só se descobrem no decorrer da mesma – seja um incrível mau hálito de manhã, seja uma tendência homicida incurável.

Apesar de tudo, existe uma tentativa em enriquecer as personagens: através da exploração do passado turbulento de Abby ou da inconstante vida relacional de Danni, Douglas Aarniokoski tenta ligar os nós de uma trama algo incoerente, à qual nem os péssimos efeitos 3D conseguem conferir grande profundidade.

Por fim, e muito no sentido de ironizar o sistema de justiça português, Abby escapa-se das garras de quem a perseguia e parte no encalce de mais mortes já sobre a guarda de uma nova identidade – deixando em aberto a possibilidade de uma sequela, mas que esperamos honestamente nunca vir a acontecer.

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