Annex - Fonda, Henry (12 Angry Men)_01

Doze Homens em Fúria (12 Angry Men, 1957)

“If you would be a real seeker after truth, it is necessary that at least once in your life you doubt, as far as possible, all things.” René Descartes

No princípio, associei Doze Homens em Fúria a Por favor, Não Matem a Cotovia (1960) – estes títulos portugueses, ai! – onde havia um crime, um tribunal e um veredito. Portanto, esta associação podia ser verdadeiramente legítima, não fosse o facto de, em Doze Homens em Fúria, o essencial não ser nem o crime, nem o tribunal, nem o veredito, mas sim algo muito mais notável.

 Nesta longa-metragem, a primeira de Sidney Lumet, doze homens (jurados do tribunal americano) entram numa sala retangular para decidir se um jovem de dezoito anos, acusado de matar o próprio pai é, ou não, culpado do crime. Inicialmente, tudo parecia muito claro. Os factos eram factos, o jovem era culpado e seria sentenciado à morte. Feita a votação, onze júris votam “culpado” e, para seu espanto, um vota o contrário. Afinal, então, o que são factos? E que poder têm? O júri nº 8 (Henry Fonda) foi o primeiro a duvidar, quanto mais não fosse pelo facto de ter em mãos a possibilidade de vida ou morte de um jovem. “Quanto mais não fosse”…

 Doze Homens em Fúria é mais do que a decisão de o jovem ser culpado ou não. Na sua longa série de interações, diálogos e comportamentos – a decorrerem durante mais de 90% do filme na sala do júri – o filme faz-nos duvidar do poder de decisão, da legitimidade e do compromisso dos jurados num julgamento. Neste caso, o júri não tinha qualquer respeito pelo processo, preocupava-se mais com os bilhetes de baseball que tinham a queimar no bolso, banalizava a ideia de vida ou morte e não compreendia a extensão e impacto do seu poder e da sua responsabilidade.

Um filme que consegue manter o seu interesse passando-se durante 90 minutos no mesmo set é, inegavelmente, um excelente filme. Com um argumento muitíssimo inteligente e assertivo (Reginald Rose) e uma fotografia a preto e branco simples e direta (Boris Kaufman), Doze Homens em Fúria leva-nos a presenciar uma cativante tentativa de desafiar preconceitos, impulsos e, em última instância, a rigidez da mente humana.

 Sidney Lumet consegue uma obra extraordinariamente interessante e com detalhes que falam por si só como, por exemplo, o facto de o júri mais velho, nº 9 (Joseph Sweeney) ser sempre filmado em close-up ou a cena em que, perante um discurso xenófobo de um dos júris, os restantes gradualmente se levantarem das suas cadeiras e lhe viram costas. O filme conta também com um elenco coeso, que oferece uma performance conjunta excelente, com destaque para Henry Fonda, que ganhou o prémio da British Academy Film Awards na categoria de Melhor Actor.

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