Jimmys Hall dance Ken Loach film

O Salão de Jimmy (Jimmy’s Hall, 2014)

A Irlanda sempre foi uma terra de contrastes, sendo constantes as quezílias entre católicos e protestantes. Em 1922, o governo britânico e o Irlandês assinaram o tratado anglo-irlandês, e finalmente a Irlanda é declarada uma região autónoma autogovernada. No entanto, nada disto foi um processo pacífico, dividindo a Irlanda em dois grupos: Os anti-tratado, que queriam ver a Irlanda ser considerada um país livre; e os pró-tratado, que consideravam isto como um primeiro passo para a liberdade total. Entre 1922 e 23 deu-se então uma sangrenta guerra civil, que culminou com a vitória dos pró-tratado, e com execuções sumárias e deportações imediatas para muitos dos “derrotados”.

É precisamente aqui que a História e a Estória se cruzam. N´O Salão de Jimmy acompanhamos James Gralton (Barry Ward) um ativista irlandês que é forçado a emigrar para os EUA, fugindo à repressão instalada.

Dez anos depois, numa altura em que se pensava que as coisas estavam a melhorar, o crescimento do fascismo, juntamento com o conservadorismo irlandês, o alastrar do crash da bolsa norte-americana em 1929, e o clima de caça às bruxas (neste caso, aos comunistas) vivido, trazem de volta Jimmy à sua aldeia natal. Altura em que se reencontra com os seus amigos, a sua mãe (a genial debutante Eileen Henry), o seu amor – Oonagh (Simone Kirby) -, e infelizmente a intransigência católica que vigorava, tendo o seu expoente máximo personificado no padre Sheridan (Jim Norton).

É quando Jimmy regressa que o salão, que tinha feito sucesso 10 anos antes, volta a abrir. No entanto, o jazz, as danças “pecaminosas” e as aulas mais artísticas, fogem à tutela da igreja local, algo que o padre Sheridan se recusa a aceitar. A partir daqui começa a escalada de perseguição e opressão perpetrada pelo IRA (a organização militar revolucionária irlandesa) e pela igreja, em relação a Jimmy e aos seus “camaradas”.

Esta história realizada por Ken Loach, com a cinematografia de Robbie Ryan, é maioritariamente isso, uma realização consistente, com uma fotografia lindíssima do ambiente rural irlandês. Infelizmente pedia-se mais, tendo em conta a seriedade dos temas abordados e do retrato de um país que o filme prometia fazer.

Por vezes sente-se alguma simpatia socialista, sem ser propaganda, por parte da obra, mas tudo desenvolvido com pouca textura, algo amorfo. As personagens são pouco densas, tornando tudo excessivamente superficial. Critica-se ligeiramente a igreja, fala-se brevemente do fascismo, glorifica-se um pouco os ideais socialistas, tudo muito ténue, a medo, pouco incisivo.

A arma secreta acabou por ser a mãe de Jimmy, Eileen Henry, uma estreante (já octogenária), descoberta num casting, consegue acrescentar algo a um filme profundamente cinzento (sendo que esse cinzentismo não tem que ver com a temática). Barry Ward, interpreta um Jimmy elegante, muito eloquente e heróico, e cumpre, isto tendo em conta que lhe é pedido mais para parecer algo e não para ser.