O Sobrevivente (Lone Survivor, 2014)
O Sobrevivente pode ser facilmente descrito como um filme de guerra. Nem sequer é o primeiro filme de guerra nascido do conflito dos E.U.A. com o Médio Oriente.
Mas alguns pontos distinguem esta obra das anteriores: primeiro, é baseado num episódio verídico – hoje em dia, “baseado” é uma palavra com um amplo grau de interpretação, mas o Spoon conseguiu apurar(com as suas capacidades inatas de Sherlock Holmes) que este filme é muito similar aos factos originais, com apenas duas cenas que não correspondem à realidade. Segundo, e intrinsecamente associado ao primeiro ponto, O Sobrevivente é extremamente realista, do princípio ao fim: não há cenas à la John Rambo em que um soldado sozinho vence quarenta e sai sem sequer um arranhão ou ferimentos de bala.
A história junta o espectador a uma equipa de quatro SEALs que tem como missão averiguar a presença de um reconhecido líder talibã numa determinada localidade, sendo o objectivo final a morte ou captura deste. Para isto, atravessam montanhas durante horas até chegarem ao ponto de observação. A partir daqui… Vão ao cinema saber o resto.
Algo assombroso ao longo dos 121 minutos é a qualidade do som. O espectador encolhe-se no banco do cinema nos momentos mais intensos, e este comportamento é imensamente devido à forma como o som dita o ambiente e intensifica a violência, o drama e a acção. Os quatro actores principais cumprem o papel de forma exímia, não sendo possível apontar nenhum deles como um elo mais forte ou mais fraco. No meio de toda a acção e drama, ainda é possível encontrar pedaços de comédia bem feita, a tender mais para o absurdo que para o inteligente, mas que resulta bem e tem o efeito desejado.
O Sobrevivente é um filme com o objectivo de contar uma história simples em toda a sua complexidade. O objectivo é cumprido, mas é inevitável considerar que, para duas horas de filme, o espectador vê muito pouco desenvolvimento: a história é limitada e o crescimento das personagens quase inexistente. A culpa não é de realizadores ou produtores ou actores, mas simplesmente algo inerente à história que está a ser contada.
Veredicto: O Sobrevivente é dos melhores filmes de guerra dos últimos anos, tanto na forma como a representa como com a qualidade e consistência com que o faz. Mesmo para quem não aprecia muito o género vale a pena espreitar, é surpreendentemente humano e intenso em termos emocionais. Trivia: este filme foi realizado com o que é considerado um orçamento limitado, foi filmado em 42 dias e dois dos protagonistas (Taylor Kitsch e Mark Wahlberg) participaram pelo salário mínimo permitido pela lei do meio cinematográfico.