Boyhood (2014)
Nunca foi feito nada como Boyhood.
Há 12 anos, Richard Linklater começou a construir um filme sobre crescer, tão autêntico quanto possível, em parte porque o tempo que representa foi o mesmo tempo que demorou a ser feito. Desde 2002, o mundo mudou de maneiras imprevisíveis mas, incrivelmente, Linklater e a sua equipa foram capazes de ao longo de mais de uma década encontrar referências da época que se vieram a tornar intemporais – desde Britney Spears ao Gameboy®. Ficámos com um filme que podia ser um documentário; é a crónica do início do séc. XXI e a vida com que qualquer criança dos anos ’90 se vai relacionar.
O realizador já tinha explorado o seu interesse pela passagem do tempo com a “trilogia dos Antes” – Before Sunrise, Before Sunset e Before Midnight – que acompanha o mesmo casal em 3 momentos: quando se conhecem, 9 e 18 anos depois. Em Boyhood, este interesse vai mais longe: acompanha o crescimento de Mason Junior, MJ (Ellar Coltrane), desde os 5 aos 18 anos. MJ e Samantha (Lorelei Linklater) são os filhos de Olivia (Patricia Arquette) e Mason (Ethan Hawke), um casal de jovens adultos que tiveram filhos cedo demais, que acabam por se separar e reconstruir as suas vidas (várias vezes), ao longo dos 12 anos em que os acompanhamos. Tal como na trilogia, há uma simplicidade reconfortante na autenticidade dos diálogos, das relações, das dúvidas existenciais ou corriqueiras das personagens; não há efeitos especiais, não há crimes nem guerra, não há nada que não pudesse ter acontecido a qualquer um de nós e há tanto que, de certeza, aconteceu.
O filme foi gravado num total de 45 dias, todos os anos, em Outubro. Foi uma ideia simples mas arriscada e eximiamente executada. O risco compensou e redefiniu o que se pode fazer no Cinema. Pode ser feito, mas a verdade é que não vai ser; não vai ser feito porque o compromisso a longo prazo que um filme assim requer é difícil de encontrar. É por tudo o que pode correr mal num investimento desta duração e com tantas pessoas envolvidas que não existem filmes assim. Boyhood não vai começar uma moda, porque é inimitável.
-
Rafaela Rolhas