O Estagiário (The Intern, 2015)
Onde te vês daqui a 10 anos? E a 20? Quando tiveres 60 ou 70 anos?
Provavelmente na idade da reforma, sem preocupações de maior, a beber uma marguerita na varanda (valha-nos, ao menos, a saúde).
Neste filme, o mote é que velhos são os trapos e nunca é tarde para mudar de vida.
Ben Whittaker (Robert DeNiro) é um víuvo, de 70 anos, solitário e que precisa de algo que anime os seus dias. Jules Ostin (Anne Hathaway) é uma self-made woman, que criou uma empresa de roupa online do zero e transformou-se num sucesso. Ben decide mudar a sua vida e torna-se estagiário sénior na empresa de Jules. Uma espécie de Diabo Veste Prada na versão ao contrário e com tudo para correr mal (gente nova, tecnologias novas, vocabulário novo… menos Ben, que é o mais velho do local). Mas Ben tem tudo o que é necessário e que já não se faz: é gentleman, trás sempre um lenço de bolso, tem a sabedoria da idade para qualquer momento… E, com isso, torna-se confidente de Jules.
Este é um bom filme de entertenimento, mas é mais do que isso: faz-nos rir, mas também nos pode fazer, aqui e ali, chorar. É um filme onde não há um vilão, que põe em causa o decorrer feliz da história. É um filme em que aprendemos que nós somos os nossos próprios vilões, às vezes, e que também somos nós que temos de tomar rédeas da nossa vida.
Fala sobre o amor, a perda, a emancipação da mulher… É um filme de domingo à noite, mas daqueles a não perder.
Claro que é estranho (e, confesso, um bocadinho triste) ver Robert de Niro no papel de um avôzinho deslocado… Faz-nos ter saudades dos seus grandes papéis, como em Raging Bull, Goodfellas, ou no tão bom Taxi Driver.
É isto que Hollywood tem reservado aos grandes, quando se tornam velhos? Serem o avôzinho da porta ao lado a precisar de dinâmica jovem para dar sentido à vida?
É um bom exercício de reflexão.
Mas o filme cumpre como entertainer e corta com certos estereótipos, o que é ótimo no cinema.
É que os bons atores raramente deixam de o ser e adaptam-se a quase qualquer papel. De Niro não perdoa e o charme de Hathaway também ajuda na química entre os dois.
Tudo isto torna “O estagiário” num filme calmo, sereno e reflexivo, que nos mostra que nunca é tarde demais para sonhar. E não é essa a magia do cinema?