Filmes da Minha Vida #5 – O Grande Peixe (Big FIsh, 2003)
O cinema não se trata de perfeição, não se trata de realidade (é aliás o oposto), não se trata de política, nem tão pouco de religião. No limite, cinema é contar uma história no seu estado puro. E no seu estado puro, não há maldade, nem bondade, nem finais felizes, ou caminhos tortuosos. No final, uma história, é a ingenuidade de um conto, sem pretensões, ou morais.
E como é difícil contar uma boa história, que nos faça sonhar, e que nos aliene da realidade!
No fim de contas, o cinema é uma alienação da realidade, e uma hiperbolização dos nossos sonhos.
É aqui que os nossos caminhos se cruzam com O Grande Peixe, uma história sobre histórias e sobre cinema, elaborada ao estilo de Robert Zemeckis, mas pelas mãos de Tim Burton (aqui numa versão menos sombria).
Baseado no livro homónimo de Daniel Wallace, Burton mune-se de toda a imaginação e simplicidade pueril para criar algo cujo escrutínio deve ser bipolarizado: a) ou nos transportou para uma outra realidade, ou b) a nossa incapacidade de imaginar fez com que a obra fosse inócua.
No meu caso foi em absoluto a opção a).
A história centra-se em Ed Bloom, um homem, como o próprio se descreve, “muito sociável”, e um contador de histórias exímio, com a particularidade de serem todas sobre a sua vida. Essa centração em si próprio, e as histórias, a roçar as estórias, afastaram-no do seu filho Will, que agora, numa altura em que o pai adoece, procura finalmente tentar conhecê-lo.
Para contar esta obra, Burton puxa dos galões dos flashbacks e cria um filme com duas dimensões temporais, a da história, e a da estória dentro da história. Felizmente para Burton, Ed Bloom teve direito a ser interpretado por dois brilhantes atores: Albert Finney e Ewan McGregor.
A simplicidade com que a narrativa percorre toda a vida de Ed Bloom, funciona quase como máquina no tempo, que nos faz perder a noção do que é realidade e o que é fantasia, e no fundo, isso não interessa nada. Como diz o ditado “quem conta um conto, acrescenta um ponto”, e à boa maneira de um telefone estragado, é ótimo quando uma história aborrecida é contada de forma que pareça a coisa mais interessante do mundo.
Os factos são aborrecidos, e o cinema não é feito de factos, o cinema é feito de magia, e de fantasia, de lágrimas e risos. À boa maneira de um bipolar, eu quero-me rir e chorar num espaço muito curto de tempo. Com esta obra foi possível.
Por fim, o ingrediente secreto que cola todo o filme: a absolutamente genial banda sonora de Danny Elfman, que nos transporta para dentro da ação, que nos agarra e se transforma à medida que a própria obra vai mudando.
O cinema é feito de verdade e de mentiras, e no fim de contas, eu não quero saber o que é e o que não é, só quero sentir.
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Sala Esgotada