Destaques do Mês
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  • Sugestão para Domingo à Tarde #36: Out of Africa (Sydney Pollack, 1985)
  • A Rainha do Deserto (Queen of the Desert, 2015)
Data
23 August 2016
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Franchise: Terminator (1984-2015)

Os filmes de James Cameron partilham certas características: uma enorme quantidade de ficção científica, ação, efeitos visuais e CGI e um brilhantismo na ideia original que deixa o público completamente conquistado. Em 2015 saiu o quinto filme desta franchise, Terminator Genisys. É portanto a melhor altura para rever todos os filmes que vieram antes e deitar um olhar compreensivo sobre a evolução deste universo.

The Terminator (James Cameron, 1985)

O primeiro filme introduz os conceitos e personagens que se iriam manter presentes em todas as sequelas nos 30 anos seguintes. Kyle Reese (Michael Biehn) é um soldado de um futuro em que a humanidade está à beira da extinção numa guerra apocalíptica com as máquinas que assumiram controlo do mundo. John Connor é o líder da resistência e é ele que envia Reese numa missão ao passado para proteger Sarah Connor (Linda Hamilton), a jovem que viria a ser a sua mãe, que foi definida como o alvo a abater por um Terminator (Arnold Schwarzenegger) que as máquinas enviaram para resolver de vez o problema dos humanos.

The Terminator é acima de tudo um filme de ação ao estilo típico dos anos 80. Há longas cenas de tiros, perseguições e confrontos que se arrastam por cenas e cenas. No entanto trouxe algo de novo à altura: uma narrativa que liga várias linhas e que mexe com um tema que tem tanto de querido com o público como tem de complexo: viagem no tempo. No fim há um twist brilhante relacionado com a circularidade intrínseca às viagens no tempo e que é muito bem executado pois qualquer história que envolva este tema tem potencial para se tornar um novelo impossível de desenrolar. O utilização de CGI e efeitos visuais foi revolucionário para a época, no entanto aos olhos da audiência atual todo o filme sofre pelas tendências cinematográficas da altura como o histerismo das personagens e ação demasiado prolongada. No entanto ao ser comparada com outras obras semelhantes da década é fácil de perceber porque é que este é considerado um clássico, não só resiste surpreendentemente melhor que a sua geração de filmes ao teste do tempo, mas também se mantém relevante em termos da originalidade do enredo e da sua resolução.

Terminator 2: Judgment Day (Jaemes Cameron, 1991)

A segunda aventura no mundo de Terminators, supercomputadores e inteligência artificial. Passaram-se anos desde o final do último filme e John Connor, o futuro líder da resistência, é agora o alvo a abater pelo novo cyborg, o T-1000 (Robert Patrick), mais avançado e perigoso que a última versão. Cabe agora a um cyborg idêntico ao que tentou matar Sarah Connor proteger John e Sarah, garantindo que sobrevivem a mais esta ameaça.

James Cameron traz-nos uma clássica segunda parte à história que começou a contar seis anos antes. Os elementos vencedores estão todos presentes: ação, efeitos visuais, ficção científica misturada com drama e horror e uma continuação subtil e interessante da narrativa do primeiro filme. Terminator 2: Judgmente Day é uma sequela inteligente na exploração dos temas do primeiro título, melhorando o menos bom, aprofundando o enredo e mantendo os elementos de qualidade. De várias formas, este pode ser considerado o melhor filme da franchise.

Terminator 3: Rise of the Machines (Jonathan Mostow, 2003)

O terceiro filme desta série surge na mesma lógica que o segundo: avançando uns anos no futuro e conhecendo um John Connor já com 19 anos e a tentar lidar com tudo aquilo que já sabe sobre o futuro. Novamente um Terminator modificado é enviado do futuro para o proteger, assim como à sua futura esposa, de um cyborg ainda mais tecnologicamente avançado do que os dos filmes anteriores.

Este é o primeiro filme a não ser realizado por James Cameron, e isso é algo visível no resultado final. Jonathan Mostow consegue transmitir um ambiente visual semelhante, mas tudo o resto soa ligeiramente fora de tom. Apesar de ricos em ação, tanto Terminator como Terminator 2: Judgment Day estavam repletos de diálogos inteligentes e interações relevantes e satisfatórias para o avançar da narrativa. Mas aqui há uma oscilação entre comédia e ação despropositada que nunca permite que o espectador se ligue da mesma forma às personagens e aos acontecimentos.

A história não é nova, mas tinha potencial para adicionar camadas de profundidade e compreensão ao mundo criado por James Cameron. Infelizmente acaba por ser apresentada de uma forma desestruturada e desinteressante: uma primeira metade em que se varia entre ação e fracas tentativas de comédia e uma segunda metade que se tenta aproximar do potencial do filme mas que já chega demasiado tarde para salvar o dia.

Terminator Salvation (McG, 2009)

Em 2009 surgiu o primeiro filme da franchise em que James Cameron não esteve envolvido, nem como realizador, nem como argumentista. O resultado final é simultaneamente diferente e nostálgico. A ação desenrola-se no famoso futuro que tem sido apenas mencionado, com uma ou outra cena esporádica. Desta vez o espectador tem direito a apreciar o mundo pós-apocalíptico de John Connor em todo o seu esplendor.

Christian Bale interpreta o papel de Connor enquanto este se depara com diversas encruzilhadas na sua missão pela sobrevivência e por garantir que Kyle Reese se junta à resistência são e salvo. A acrescentar aos problemas de Connor surge Marcus (Sam Worthington), um prisioneiro sentenciado à morte e executado décadas antes, que surge no meio do conflito. Inimigo ou aliado? E como poderá ser útil à resistência humana? Em Terminator Salvation o espectador acompanha a liderança de uma das personagens mais icónicas da franchise, mas que nunca recebeu o tempo de antena que lhe correspondia (sem ser como criança ou adolescente, antes de ser tornar no aclamado líder e salvador). O filme é rico em ação e tem o seu twist, no entanto deixa para trás a narrativa aguçada e a rede de ligações relacionadas com as viagens no tempo, optando por explorar a época em questão e todo o desenvolvimento tecnológico íntrinseco à revolução das máquinas.

Sente-se a ausência de Cameron, no entanto o filme acaba por ser agradável e interessante, de uma forma diferente da ficção científica inovadora e surpreendente do seu criador.

Terminator Genisys (Alan Taylor, 2015)

Eis que surge o aguardado filme descrito como uma sequela, uma prequela e um reboot pelos próprios profissionais por trás da sua execução. Na indecisão, o melhor é mesmo ver o filme. A ideia era injetar uma nova dose de energia à franchise, trazendo uma nova Sarah Connor (Emilia Clarke) e um novo Kyle Reese (Jai Courtney) para uma nova geração. Os atores tiveram excelentes desempenhos e foi divertido observar como a dinâmica entre os dois se desenvolveu com os twists que a narrativa tem em comparação com a original. Isto porque o núcleo desta nova versão consiste em desafiar todos os conceitos de viagens no tempo que têm sido apresentados até agora. Presumindo a possibilidade de criar alterações na realidade a partir de eventos chave que criam certas distorções surge um universo relativamente aberrante para o fã da narrativa relativamente consistente que tem sido apresentada. Não deixa de ser entretenimento de boa qualidade: há ação, há humor e excelentes momentos protagonizados por Arnold Shwarzenegger utilizando o envelhecimento do ator e incorporando isso na narrativa sem se perder a ameaça e o perigo clássico do Exterminador. No entanto a narrativa é demasiado forçada, há mais viagens temporais do que seria desejado e demasiada correria de um lado para o outro para que os desempenhos dos atores pudessem realmente contribuir para uma épica sequela/prequela/reboot.

Conclusão

Esta franchise é composta por alguns clássicos que nunca devem ser desprezados apesar de já contaram com várias décadas de existência. Os primeiros dois filmes em particular foram inovadores e ambiciosos na forma como abordaram aquilo a que o espectador estava habituado a ver no cinema e surpreendendo ao explorar novos caminhos de uma forma eficaz e com uma narrativa que se tornou uma referência incontornável na ficção científica. Infelizmente seguem-se sequelas menos agradáveis. É possível descrever a terceira parte desta coleção como aborrecida, e simplesmente um festival de explosões e reutilizações sem muita habilidade de aspetos já conhecidos dos fãs. O quarto filme é completamente diferente dos três anteriores e apesar de não ser uma obra de arte consegue aguentar-se nos seus próprios pés devido a esse distanciamento, tocando nos pontos conhecidos mas sem se embrulhar desastrosamente. Acaba por ser um filme divertido e com interesse moderado. O último filme é um revisitar dos elementos familiares de todos nós mas com twists, twists por todo o lado. Tem piada ao nível da ficção criada por fãs, coloca-se quase na categoria de what if?. O melhor neste filme é os atores: Jai Courtney, Emily Clarke e Swarzenegger mantém o espectador relativamente interessado e com vontade de continuar a ver, mas não são capazes só por si de tornar Terminator Genisys no herdeiro que a franchise merecia.

  • Sala Esgotada

    A saga devia terminado com o segundo, na minha opinião.