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Saint Lauren (2014)

Yves Saint Laurent foi, incontestavelmente, um dos maiores estilistas da história. A sua influência e contributo na moda feminina não estão de todo em causa.

Já o interesse que um relato da sua vida possa ter para o público comum é um tanto ou quanto duvidoso. Isto dito, a estreia de não um, mas dois filmes biográficos no mesmo ano causa alguma admiração. Será que havia necessidade? Há alguma coisa que tenha ficado por dizer?

Usando o vocabulário da área, o primeiro filme, o Yves Saint Laurent de Jalil Lespert é pronto-a-vestir: linear, simples e directo. Foca as vitórias do estilista, as suas conquistas e ascensão; é uma glorificação do homem que, mais do que um deus, virou marca.

Já o Saint Laurent de Bertrand Bonello é mais parecido com alta-costura: por um lado mais complexo e vistoso, por outro menos prático, conciso e longe de ser conciliador (por algum motivo Pierre Bergé, companheiro do falecido estilista e um dos reponsáveis pela criação da marca YSL, tentou proibir as gravações). Decorre entre 1967 e 1976, época em que Laurent apresentou algumas das suas maiores criações, mas a ideia não é destacar o seu espírito criativo, o génio da moda feminina, criador de ícones e ele próprio um ícone. Isso seria repetitivo, desinteressante e muito pouco ousado – adjetivos que não combinam com o homem que assinou L’Apollonide. O que se destaca em Saint Laurent é o génio emotivo do estilista, a sua fragilidade e insegurança, a dificuldade em lidar com as expetativas e uma personalidade caprichosa e dependente. Bonello não procura o artista irrepreensível, o génio ‘sobrehumano’; Bonello explora a humanidade do estilista, os seus vícios e falhas. O Yves Saint Laurent que o realizador francês nos apresenta é cínico, elitista, obstinado, caprichoso, um génio digno de admiração mas também um homem frágil e quebradiço.

Os dois filmes apresentam perspetivas diferentes e assim se justifica – e até se aplaude – a relevância de Saint Laurent. A ideia é original e a intenção é das melhores…

Já a conceção deixa um pouco a desejar. O filme é disperso e estagnado. Em vez de uma história com introdução, desenvolvimento e conclusão, apresenta uma ‘colagem’ de momentos mais ou menos dramáticos e descoordenados que revelam o temperamento do estilista. Em vez de um relato estruturado e lógico, Saint Laurent tem uma passerelle de personagens e encontros cuja importância não está completamente decidida.

Léa Seydoux, Valeria Bruni Tedeschi, Amira Casar e uma infindável lista de atores que partilham o ecrã com o protagonista Gaspard Ulliel, e no entanto só Louis Garrel é que consegue agitar as águas e impedir que Saint Laurent se transforme num pântano. O ator interpreta Jacques de Bascher, o it boy da cena parisiense, musa de Karl Lagarfeld e amante de Yves Saint Laurent. O Bascher de Garrel é um misto tentador de sensualidade, ousadia, extravagância e agressividade. A química com Ulliel é perigosa ao ponto de quase lhe roubar o protagonismo.

Sim, havia necessidade, havia algo mais para ser dito sobre a vida de Yves Saint Laurent, todo um “lado lunar” à espera de ser explorado. Mas ideia perdeu-se, o filme arrasta-se onde devia apressar-se e despreza o que devia explorar com mais pormenor.

Se calhar é uma criação de passerelle, um daqueles vestidos assimétricos num tecido áspero com transparências constrangedoras, sem qualquer uso prático; se calhar é arte e não está ao alcance de todos…

Colherada Final

Veredito

Infelizmente, Louis Garrel sozinho não faz um filme. Saint Laurent é um 'must have' mas apenas para quem se interessa particularmente pela vida do estilista.

6/10

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