serena

Serena (2014)

Em mais uma fita em que contracenam Bradley Cooper (George Pemberton) e Jennifer Lawrence (Serena Shaw), parece que os actores decidiram escrever um guia para um final menos feliz. O fio principal da história começa a desnivelar-se quase vertiginosamente nos primeiros minutos do filme com o amor súbito entre George, um empresário da Carolina do Sul do ramo das madeiras e Serena, uma jovem dotada para os desportos equestres, marcada pela perda da sua família num incêndio de que foi a única sobrevivente. Acompanhamos meio atordoados a rápida evolução da relação entre estas duas personagens, que culmina no laço matrimonial e na mudança de Serena para a terra de George.

Como é típico no cinema e na vida, a ideia de ascensão transporta a ideia de queda. Fomos esperando isso: era natural que a beleza onírica da relação entre George e Serena conduzisse, mais cedo ou mais tarde, ao seu negrume. E eis que, após uma fase poética e melódica em que os dois protagonistas mostram aos espectadores o que é uma relação serena com uma pessoa com esse mesmo nome, o anunciado momento de viragem irrompe. De facto, era-nos até quase denunciado pelo facto de George ter tido um filho com uma empregada pouco antes de conhecer Serena, algo que se sentia estar a assombrar lentamente a luminosidade do amor entre os protagonistas. Assim, quando Serena perde o filho que concebeu com George durante a gravidez e a capacidade de voltar a engravidar, a história sofre um volte-face irreversível.

A partir desse momento, vemos um George cada vez mais a compensar a sua profunda tristeza pela perda do filho com Serena e da possibilidade de com ela ser pai focando-se no filho que tinha com a empregada. Assistimos por um lado a esse distanciamento de George e, por outro, a uma Serena marcadamente incomodada com a presença do filho do seu marido na comunidade em que vivem. Ora esse incómodo dá origem a uma vil obsessão: a de matar aquilo que simboliza o que não conseguiu nem vai conseguir ter. Desta forma, à medida que vão lutando pela sobrevivência do seu negócio e dos seus sonhos, de maneiras que atropelam vigorosamente a ética e a moralidade, George e Serena focam-se na sua amarga perda em direcções diferentes: um quer ser um pai meio presente, enquanto Serena quer o seu marido plenamente de volta, com o custo de matar o filho e o foco do seu amado. O fim é quase totalmente trágico, um guia para um final muito pouco feliz.

Abusando uma última vez da palavra que empresta o título ao filme, podemos agora pensar com serenidade numa das mensagens mais importantes que este nos passou: a melhor maneira de aferir a real força de uma relação é através da mais violenta das tempestades. O idílico com um aviso “cuidado – frágil!” não é prometedor. A qualidade não se testa honestamente em condições favoráveis.

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