Destaques do Mês
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  • Sugestão para Domingo à Tarde #36: Out of Africa (Sydney Pollack, 1985)
  • A Rainha do Deserto (Queen of the Desert, 2015)
Data
14 August 2016
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Eterno Solteirão (Solitary Man, 2009)

Don’t know that I will but until I can find me
A girl who’ll stay and won’t play games behind me
I’ll be what I am
A solitary man

(Johnny Cash)

Este verso de uma das letras de Johnny Cash, que aliás dá nome à obra, é também representativa do protagonista do filme, Ben Kalmen (Michael Douglas).

O filme começa 6 anos e meio antes da história que iremos acompanhar, e define o tom a partir daí. Neste primeiro momento, Ben tem a sua primeira confrontação com a mortalidade, ao perceber que poderá ter uma doença grave.

A forma de lidar com essa informação foi a mais “sensata” possível: não só se recusou a fazer os exames de despiste, como enveredou por um caminho de prevaricação, “prevaricando” em todas as raparigas com “daddy issues” dos EUA.

Quem não gostou muito foi a sua mulher, Nancy Kalmen (Susan Sarandon), começando aí a sua ostracização familiar. Depois, como quem não quer a coisa, resolveu tornar o seu negócio rentável e honesto, em algo só comparável ao que o Sr. que está(va) preso em Évora fez (só que o Ben pediu desculpas).

Resumindo: 60 anos, muito sexo com jovens com 20, e cada vez mais sozinho.

É nesta toada que vemos Ben cada vez bater mais no fundo, e nem a sua filha Susan (Jenna Fisher), o parece conseguir salvar.

A forma como a historia evoluí, sem que se perceba exatamente onde vai culminar, faz com que a qualidade do filme dependa quase na totalidade de Michael Douglas, cabendo ao elenco secundário deixá-lo brilhar; e Michael brilha.

A decadência disfarçada com crise de meia-idade é avassaladora e obriga-nos a pensar sobre o papel da família, a ganância, o consumismo desmesurável, os falsos amigos, como temas que circundam à volta da autodestruição do protagonista. Felizmente, nesta montanha/salada russa são contadas muitas histórias, sem que para isso sejam necessários grandes alaridos, ou foguetes.

A simplicidade do filme, marcado pelas interpretações, é o que faz com que, apesar de acontecerem mais coisas, nunca percamos o foco. A vida de um homem é aqui desconstruída, num filme onde a narrativa não nos é oferecida numa bandeja, e de onde não precisamos de conclusões.

Não é perfeito precisamente por, mais para o final, tentar dar uma resposta, quando durante todo o filme só foram levantadas questões. No fundo, as respostas são só para sairmos do filme de “barriga cheia”, algo que era desnecessário.

A exceção desse pormenor, todos os restantes pormaiores da obra (a fotografia, a banda sonora), constroem uma história que contempla a vida de um homem que, ao preencher o vazio, apenas se torna mais sozinho. E nós sentimo-nos sozinhos com ele, e tristes com ele, sem que se vislumbre ou oiçam choros e gritos supérfluos.

Solitary Man foi uma pérola esquecida de 2009/2010, que deve ser revisitada!

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