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Data
26 August 2016
E17TVa - For Dawidziak - DEXTER, the critically acclaimed drama series about a serial killer, which recently completed its second season on premium cable network SHOWTIME, makes an unprecedented appearance on network television when it premieres Sunday, Feb. 17 (10:00-11:00 PM, ET/PT) on the CBS Television Network. Pictured Michael C. Hall stars as a Miami blood-spatter analyst and serial killer on DEXTER. Photo: Christian Weber/Showtime. Maximum width 60 picas at 200 dpi. 2/12/08

“O Último Episódio” – Dexter (8 Temporadas – 2006-2013)

CONTÉM SPOILERS

Há séries com tantas temporadas que parecem ser infindáveis. Recentemente surgiram exemplos de séries cujos produtores e argumentistas defenderam um número definido e limitado de episódios para contarem a história sem sobre-saturarem a audiência (Breaking Bad, Spartacus). Mas na década de 2000 foram várias as séries que se prolongavam (Dexter, Supernatural, Bones) indefinidamente.

O último episódio de Dexter conclui uma temporada que despe a personagem de todas as pretensões de controlo e compartimentalização. Foram essas mesmas as características que definiam Dexter na primeira temporada: o psicopata arrumadinho, compartimentalizado, controlado, calculista, frio, insensível, incapaz de emoções. Toda a série caminhou no sentido de eliminar cada um destes pontos. Desde a intrusão de antigos membros de família, ao conhecimento de factos passados que chocam Dexter e a audiência, aos desafios pessoais que se colocam quando a “máscara” se torna demasiado real.

Ao longo de oito temporadas a personagem conhece um irmão desconhecido, tem de fugir à polícia onde trabalha, lida com um serial killer que traz o FBI para Miami, casa, tem um filho, revela o seu segredo a algumas pessoas e encontra outras semelhantes a ele. No fim vemos uma pessoa mais humana, mais sensível – mas potencialmente inferior nas suas tarefas mais clandestinas. O impensável acontece: Dexter é humano e, como todos nós, é guiado por medos, sentimentos, expectativas, planos futuros.

Tendo tudo isto em conta, como é que o último episódio se encaixa nesta série? Depressivamente bem. Que final pode funcionar para um anti-herói psicopata cuja principal ocupação ao longo de todos estes anos foi matar pessoas? Um serial-killer com centenas de vítimas. Um homem que pôs em perigo a sua família inúmeras vezes – sendo parcialmente responsável pela morta da mulher. Será que o final “Felizes para sempre” seria adequado? Mas felizes para sempre a fazer o quê? A matar pessoas? Então a série nunca acabaria. Dexter seria finalmente capaz de controlar todos os seus impulsos? Pouco provável, mesmo até ao último episódio vemos como a compulsão por acabar uma vítima é superior a qualquer outra vontade, o desejo de finalizar a caçada é demasiado forte. Sim, é verdade que vemos um controlo diferente perto do fim, mas que se segue a uma obsessão e uma necessidade doentias.

Uma opção simples seria a de matar a personagem. De preferência de uma forma irónica ou dramática. E aqui entramos no âmbito deste último episódio [FULL SPOILERS AHEAD]. Por momentos era mesmo isso que parecia. Dexter, no seu momento mais humano de sempre, a abdicar da sua própria vida para que o filho e a mulher que ele ama pudessem viver em paz, sem a sombra de perigo que ele traz permanentemente consigo. Dexter, de forma trágica a sepultar o cadáver da irmã – a sua última vítima – no mar, no meio de uma tempestade e a juntar-se-lhe. Os irmãos Morgan juntos no fim, até ao fim. Por momentos foi este o final. E não haveria nada de errado com ele. Seria um final adequado. O culminar de uma caminhada de 8 anos. Trágico. Mas independentemente de quanto humor estivesse presente, Dexter sempre foi um drama. Mas não. Na última cena vemos Dexter num local remoto, num trabalho impessoal e longe dos homicídios de Miami. O espectador vê o seu protagonista a entrar numa casa simples, de madeira, e simplesmente a sentar-se a uma mesa, olhar perdido no vazio. Esta é a última cena do último episódio. Se calhar a mais importante de toda a série.

Numa palavra: solidão. A alternativa à morte é o isolamente total de qualquer contacto humano. Viver num meio que permita não um controlo do seu impulso, mas a ausência de impulso. Não é uma questão de tornar o lobo vegetariano, é uma questão de o deixar demasiado esfomeado para caçar. Privado do seu sustento, apenas resta uma sombra do seu eu anterior. O facto de ser uma condição auto-imposta revela um maior sacrifício do que a morte que a tempestade lhe oferecia. Dexter está neste local, sem a irmã, sem o filho, sem os amigos, sem a mulher que ama. Sem aquilo que o definiu toda a vida. E vai continuar a estar, porque foi esta a escolha que ele fez, tanto como punição a si próprio, como para proteger aqueles que ama.

É na última cena do último episódio que a transformação de anti-herói psicopata serial-killer para protagonista se verifica. Dexter nunca será um herói, mas acabou por não ser um vilão.

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  • Claudjinha24

    Muito bom.

  • Amlr

    Podemos especular um regresso?

    • Ricardo Felício

      A própria Showtime considerou uma 9ª temporada numa fase em que ainda estava a ser concluída a 6ª. Depois disso os realizadores disseram numa entrevista que esta era a história que queriam contar, com este final em mente. O que continua em cima da mesa é um spin-off de Dexter, mas poucos detalhes são conhecidos.