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  • Sugestão para Domingo à Tarde #36: Out of Africa (Sydney Pollack, 1985)
  • A Rainha do Deserto (Queen of the Desert, 2015)
Data
1 July 2016
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Straight Outta Compton (2015, F. Gary Gray): Todo o Hype de um filme que não vai estrear em Portugal.

Straight Outta Compton é o filme que conta a história dos primórdios do Gansta Rap, através do nascimento da banda NWA (Niggaz Wit Attitudes), composta por Ice Cube, Easy-E e Dr. Dre. Dito isto, basta ver uns vídeos, ler umas notícias, ir ao wikipédia, ou conhecer a história, para perceber que temos duas hipóteses: a) criticamos o filme por ser uma fabulação muito longe da realidade da história do grupo; b) abraçamos a estória de ficção que nos proporciona bons momentos.

Dr. Dre (o verdadeiro), tem um passado de violência, agressão física a mulheres, droga, etc. Curiosamente neste filme (que Dre produz), o mesmo assemelha-se a um menino de coro, incapaz de ver injustiças no mundo.

Easy-E, o membro mais velho, morreu com sida, teve mais de 40 filhos, vendeu droga, consumiu muita. Aqui, também morre com sida, de resto, bom samaritano.

Ice Cube; bem, Ice Cube é Ice Cube, basta ver a cara dele para termos medo. Ironicamente, na atualidade, o autor de “Fuck the Police”, agora estrela de cinema, faz muitas vezes papel de polícia.

Esclarecida que está a realidade, passemos ao plano b) ficção.

Do ponto de vista de estória, a primeira cena do filme dá o mote para uma obra que aparentava querer ser crua, dura, violenta e carregada de vernáculo. Droga, violência, música dos guetos da Califórnia, o potencial era imenso.

Para tornar esta biografia mais realista, os actores assemelham-se de uma forma espantosa aos originais. O que é explicável, por exemplo, por Ice Cube ser interpretado pelo seu filho O’Shea Jackson Jr.. A completar os três estarolas temos o sensacional Jason Mitchell, como o decrépito Easy-E, e o sensaborão Corey Hawkins, numa espécie de Dr. Dre “miss simpatia”, ao estilo Sandra Bullock em Miss Congeniality.

Os vilões são a polícia, mas isso até se percebe, não é preciso ser muito inteligente para saber que a Polícia de Los-Angeles abusava da força e do racismo nos anos 80, 90, bem, e mesmo agora.

Foquemos a história. Um grupo de amigos que decide criar uma editora, e um grupo. Rapidamente somos apresentados ao agente artístico Jerry Heller (Paul Giamatti). Como dizia Chris Rock nos últimos óscares, ele é mesmo o melhor ator do mundo, a sua interpretação é genial, e não merecia ter sido esquecida, e passado ao lado na época dos prémios. Depois, seguimos-lhes as pisadas na primeira tournée, até à separação do grupo.

Mas afinal o que tem de bom o filme

Vamos aos óbvios; banda sonora genial. Quem está por trás do filme assegurou que pelo menos a banda sonora fazia jus à realidade. Vernáculo em enxurrada, e músicas de intervenção social. Eles eram uma espécie de Ary dos Santos, mas se ele tivesse nascido no Cacém.

Gary Gray, realiza bem, quase ao estilo documentário, muitas vezes, tentado dar uns laivos de realismo.

O ritmo do desenvolvimento da narrativa é possante. Ao estilo Biopic, as coisas acontecem muito rápido, mas não se sentem os cortes. A narrativa evolui, sem nunca aborrecer. Esse é talvez o ponto melhor do filme, “this shit is dope”.

Jason Mitchell e Paul Giamatti, os melhores do filme.

Então, e o que está de errado?

Existem partes que mais parecem ter sido feitas pelos estúdios da Disney. A efabulação, a realidade passada que soa a mais falso que a mamoplastia das Pamela Anderson nos anos 90, e a falta de desenvolvimento das personagens.

Eu sei quem eles são, mas não devido ao filme, antes graças ao Google.

Nota-se uma preocupação gigante em dar uma boa imagem dos “irmãos” e penitenciar os “brancos”, o que acaba por não se traduzir em credibilidade, por parecer demasiado premeditado.

E a polémica dos Óscares

O filme foi nomeado para melhor argumento original (o que eu até posso concordar).

Jason Mitchell está forte como Easy-E, admito, mas não o suficiente para os óscares.

No geral, o filme é bom, sem ser excecional. A explicação da pontuação elevada e de algumas críticas, é pelo facto de saber contar uma história que diz muito aos americanos, mas sem que tivessem ido mais fundo. Facilmente poderiam ter adensado a relação entre os afro-americanos, e a polícia, o racismo da altura, mas isso ficou pela rama.

Curiosamente, quem mais merecia ter sido nomeado pelo filme até era Paul Giamatti (um branco). No entanto, se isso tivesse sucedido, a polémica ainda seria maior.

#Oscarsowhite, pois. Façam um exercício, e vejam o desempenho deste elenco em comparação com o desempenho do elenco de O Caso de Spotlight. Não é discriminação se forem escolhidos os melhores.

Penso que a questão do racismo no cinema é tão válida sobre os Afro-americanos, como se fosse levantada pelos asiáticos, ou mesmo os Canadianos (também não ganham muitas vezes).

A academia precisa urgentemente de reformar os membros votantes, os lobbys têm de acabar, e o  Alejandro Gonzalez Inárritu tem de parar de ganhar (pois não merece).

Por isso a questão não é sobre a cor dos intervenientes, é todo o sistema que está montado e que é injusto para as minorias (não só africanas), e isso não se resolve com cotas, resolve-se com a mudança de paradigma.

PS – Eu omiti dois membros dos NWA neste texto, mas só porque eles quase não têm relevância na obra apresentada, só fazem de corpo presente: DJ Yella e MC Ren.

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