Série para quem acha que os Simpsons “antigamente é que eram bons”
Futurama
Nº de episódios: 140 (7 temporadas)
Duração dos episódios: 22 min
Sinopse: “Philip J. Fry é congelado por acidente no ano de 1999, acordando na véspera de Ano novo de 2999.”
É um milagre uma série com um percurso tão conturbado ter sobrevivido tanto tempo. No espaço de 14 anos, Futurama esteve cancelada durante 5 anos, passou em quatro canais de televisão diferentes e só em 2013 é que terminou de vez. Em princípio.
Provavelmente a melhor maneira de explicar este fenómeno é com uma citação da própria série:
Leela: “Why not? It’s clever, it’s unexpected…”
Fry: “But that’s not why people watch TV. Clever things make people feel stupid and unexpected things make them feel scared.”
Sim, este argumento pode parecer um pouco presunçoso – alguns dirão até ressabiado -, mas não deixa de ser verdadeiro. Apesar dos ratings miseráveis é uma série inteligente e divertida – basta saber que foi criada e desenvolvida por Matt Groening, a pessoa responsável por The Simpsons. Apesar dos dois programas terem algumas semelhanças, Futurama tem um humor mais negro e menos “para toda a família”, sem nunca chegar ao nível de “total idiotice” que séries como Family Guy e American Dad às vezes alcançam.
O facto de já ter listado quatro séries de animação em apenas dois parágrafos prova que este subgénero televisivo se tornou um universo à parte. No meio de tantas opções, Futurama destaca-se. Ao contrário da outra série de Groening, nunca se tornou a galinha dos ovos de ouro de nenhum canal. Posso não concordar com quem acha que os Simpsons já não prestam, mas a verdade é que é uma máquina bem oleada e com um estrutura muito bem estabelecida, o que dificulta a parte criativa.
Nada estimula tanto a imaginação e a motivação como o receio constante de cancelamento. A principal (se não a única) razão para Futurama ter durado tanto tempo foi o amor à camisola, tanto de quem a escreve como de quem a vê – mesmo que o segundo grupo não seja assim tão grande. Por detrás de todo o humor negro, histórias loucas, viagens no tempo e referências obscuras, está um afecto e um respeito por todas as personagens e pelas suas histórias. Acima de tudo, é isto o que define a série.
Isto vê-se pela forma como os argumentistas lidam com as suas personagens, que são mais do que peões para contar uma história com piada. Todas elas têm passado, personalidade, formas de interagirem umas com as outras. É a sua complexidade que as torna interessantes.
Às vezes não são as personagens que nos emocionam, mas as próprias histórias, que conseguem sempre equilibrar momentos comoventes com diálogos hilariantes. Só em Futurama um episódio que envolve um inferno só para robôs deixa uma pessoa emocionalmente comprometida por causa da porcaria de uma flauta. E ainda está para chegar o dia em que penso no cão do Fry sem querer chorar pelo menos um bocadinho.
Estes momentos mais enternecedores não fazem a série menos hilariante. Há piadas recorrentes que são sempre óptimas, bem como outras menos óbvias. Cada episódio pode ser visto várias vezes: há sempre pormenores que escapam, piadas subtis que só percebemos na segunda ou terceira vez que vemos. Chegam a dar pistas de coisas que só acontecem 4 ou 5 anos depois.
Apesar de ser compreensível, não deixa de desapontar a série não ter durado mais tempo. Consola um pouco ter mantido a qualidade até ao fim, bem como a esperança de poder eventualmente regressar. Algures no futuro, talvez.
-
https://www.facebook.com/app_scoped_user_id/10203917418439138/ Pedro Tavares