
O Pátio das Cantigas
A arte de fazer dinheiro através do cinema português, é uma arte obscura, por descobrir. Cinema comercial português, é outro animal raro, em que apenas parecem existir fogachos. Remakes de filmes portugueses? Nunca ouvi falar.
E eis que – não falando da qualidade do produto – surge Leonel Vieira, um cineasta já experimentado que se propõe a reinventar três filmes da era dourada portuguesa: Pátio das Cantigas, O Leão da Estrela, e Canção de Lisboa. Outrora filmes que apenas se propunham entreter, retratando uma realidade de um Portugal provinciano, que agradava à ditadura, e que, por outro lado, alegrava as massas.
Agora a ditadura é outra (mandam os números) e a expectativa de quem vos escreve era baixa, no momento da pré-visualização. No entanto, o resultado foi mais positivo que se avizinhava.
Este 1º remake de Pátio as Cantigas não tem António Silva e Vasco Santana, nem tão pouco (felizmente), tem o mesmo Portugal. Ao invés, tentou-se adaptar a realidade bairrista de um Portugal do séc. XXI, oriundo da capital. Filmado como se fosse um telefilme de domingo à tarde, esta obra optou sempre pelo facilitismo dos clichés, piadas fáceis, e estereótipos de um bairrismo que não será tão exacerbado na realidade. A tentativa de desenvolver a história de mais de uma dezena de personagens, também não resultou, e o filme dispersou-se quase sem ter história.
E então, o que fica de Pátio das Cantigas? A verdade é que, apesar de todas as falhas, o filme diverte, entretém, e tem algumas interpretações de encher o olho.
Se os maneirismos de Cesar Mourão, enquanto Vasco Santana são a roçar o mediano, por outro lado, o “António Silva” de Miguel Guilherme é absolutamente um filme dentro do filme, agarrando-nos à obra em todas as cenas em que entra (felizmente muitas).
Depois, por mais fáceis que sejam as piadas, o facto de se relacionarem com as nossas tradições e com um bairro que todos nós achamos conhecer, cria aquela identificação que nos ativa a vontade de rir. A explicação é simples, reconhecemos lugares, expressões, e um Portugal caricaturado, e isso faz-nos rir.
Depois as caras de sempre das telenovelas, fazem-nos sentir em casa. Ainda que, com exceção de Rui Unas, Anabela Moreira (vénias), e Miguel Guilherme (duas vénias), seja uma casa labrega e com um curso de representação encontrado na farinha amparo.
Separando o trigo do joio, sobra o joio, mas como nem só se vive de caviar, venham mais destes filmes maus, mas que nos fazem rir em grande parte do tempo.
Portugal precisa de rir, e Pátio das Cantigas cumpre o que se propõe, por isso, que o Evaristo traga mais disto sff.
Colherada Final
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- 6/10
6/10
Veredito
É complicado avaliar um filme que sabemos ser mau, mas que nos faz rir.
A verdade é que se saímos de lá e não nos sentimos defraudados, então ir ao cinema serviu para alguma coisa. E afinal, rir nunca fez mal a ninguém.