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Rua Cloverfield 10 (10 Cloverfield Lane, 2016)

Surpresa. Esta é a primeira coisa que me apraz dizer após a visualização desta obra. Rua Cloverfield 10 é pólvora, quase nunca seca.

Surpreende porque, por ser um filme de terror sobre aliens, podia cair em todos os clichés. Ademais, Cloverfield, o predecessor, tinha já sido uma agradável surpresa na altura. No entanto, isso só serviu para adensar as dúvidas no presente.

Depois, quem é o realizador Dan Trachtenberg?

Então, porque raio arrisquei tudo e vi o filme? Resposta: J. J. Abrams (produz a obra). E mais uma vez ele acertou! Aliás, se não fossem os créditos, quase que jurava que tinha sido ele a realizar, tal é a semelhança Spielbergiana na forma como conta a história, com um toque à Neill Blomkamp (Distrito 9).

A narrativa começa (e que começo) com Michelle (Mary Elizabeth WInstead) nervosa dentro de um carro, que acaba por ser abalroado por Howard (John Goodman). Rapidamente somos levados para outra realidade, escura e apertada, onde Michelle se vê refém, conjuntamente com Emmet (John Gallagher Jr.), sobre a premissa que lá fora se está muito pior (isto porque os Aliens andam à solta).

Cativeiro acaba por ser a palavra que melhor descreve o ambiente claustrofóbico do filme. Sim, enquadra-se no género de terror, mas mais do que terror visual, as cartas são todas no campo do psicológico. A falta de ar, o não saber o que se vai passar; à boa maneira de Hitchcook temos mais medo do que não vemos, mas pressentimos, do que daquilo que vemos.

Aliás, aqui os aliens são mais um adereço, do que um tema central. Sim, eles aparecem, mas são dispensáveis.

 Quem não são adereços são os atores, em especial Goodman e Winstead. No meu caso, é difícil ser imparcial quando falo em WInstead, devido à minha obsessão “Scott Pilgriniana” por ela, mas neste caso penso ser consensual: ela contribui, e de que maneira, para todo o “ambience” do filme.
No entanto, quem o eleva para outra dimensão é John Goodman e o seu arfar assustador. Ele parece estar sempre entre um ataque cardíaco e um ataque de fúria. Consegue ser assustador, mesmo quando o diálogo é amistoso e, mais impressionante que isso, consegue subir escadas, o que é desafiante dada a obesidade do senhor. Vê-se que teve treino para fazer as cenas mais físicas (como andar e subir escadas).

Por fim, não poderia deixar de mencionar a realização. É efetivamente inteligente a forma como recorre aos close-ups, intensificados pela música, sem que a seguir seja necessário alguma cena espalhafatosa ou mórbida, que poderia levar o filme a cair no ridículo. Além disso, é impressionante a forma como “compramos” o argumento distopiano, e nos pomos a equacionar possíveis cenários sobre o que se passa fora do cativeiro.

Assim sendo, esta Rua Cloverfield 10 não é só um bom filme de Horror, é uma excelente peça visual, bem filmada, e com um argumento suficientemente robusto para nos fazer pensar sobre o que de errado está no mundo.

Se vão ter pesadelos? Sim, mas não vão chorar o dinheiro gasto no bilhete.

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