Sem Título

Pink Flamingos (1972) – Queer Lisboa

O Magnum Opus de John Waters, um dos mais famosos midnight  movies de sempre, uma viagem perturbante pelo gratuito, pelo imoral e por inúmeros outros sinónimos de nojento. Produz apenas três reações em quem o vê: rir, chorar ou vomitar.

Duas mulheres competem por ser a “filthiest person alive” (a pessoa viva mais javardona). Connie Marble (Mink Stole) acredita ser a pessoa mais asquerosa do mundo, mas o atual título pertence a Divine (protagonizada pelo famoso travesti com o mesmo nome). Nisto inicia-se uma guerra de asco em que as mulheres são apoiadas pelas suas famílias para provar quem é realmente a mais imunda.

O filme é um exercício de liberdade. Explora o que se pode apresentar num ecrã com um orçamento limitado, uma câmara e um pequeno grupo de pessoas, mas toma também o constante desafio de chocar a audiência. É apresentada uma sequência de eventos que incorporam desde o lambuzar de objetos em equipa até ao sexo com galinhas – e isto é só referir os elementos mais soft.

pink-tongue

Um corrimão é capaz de ser a coisa menos suja que Divine lambe neste filme.

Tudo isto é acompanhado por uma cinematografia tão deplorável como as ações dos personagens. Zooms de câmara constantes a lembrar filmes caseiros, transições de cenas incompreensíveis, uma banda sonora que corta as músicas sem qualquer cuidado – chamar a isto cinematografia é um insulto a qualquer filme, já que nem no cinema trash se encontram composições tão abismalmente más. Contudo, todos estes elementos fazem sentido no contexto filthy do filme, enaltecendo a repulsa que a audiência sente e dando um aspecto mais realista ao que se passa no ecrã.

Será o filme um pioneiro nas ideias presentes nos “Reality Shows” que assolam as televisões nos dias de hoje? Ou será uma previsão do que estaria para vir? A narrativa chega mesmo a contemplar a presença dos tabloides a reportar os atos de Divine e a curiosidade das pessoas por acompanhar tais atos quase inumanos. Haverá uma crítica social por trás desta monstruosidade?

Não é um filme para estômagos fracos e terá pouco interesse como algo mais que uma curiosidade. Estranhamente foi um filme que marcou o cinema independente nos Estados Unidos nos anos 70. Não é aconselhável o visionamento individual, pois pode provocar fortes pesadelos que levarão qualquer um a fugir para a cama da mãezinha. Visualizado com um grupo de amigos poderá ser divertido, especialmente fazendo concursos para ver quem é o primeiro a desviar o olhar.

ARTIGOS POPULARES