Fruitvale

Fruitvale Station: A Última Paragem (2013)

Fruitvale Station surge num momento em que a temática do racismo gera especial polémica nos Estados Unidos. Basta considerar as recentes revoltas em Ferguson, Missouri, para compreender que este é um problema sistémico que está longe de estar resolvido. Com este controverso cenário de fundo, Ryan Coogler estreia-se com um filme independente sobre a história real de Oscar Grant, um jovem de raça negra brutalmente morto por um agente da polícia, na estação de comboio de Fruitvale. A estreia de Fruitvale Station no Sundace Film Festival em 2013 levou à sua aclamação geral, recebendo o Grand Jury Prize e o Audience Award.

O filme centra-se no último dia deste jovem de vinte e dois anos (protagonizado por Michael B. Jordan), culminando no seu falecimento nas primeiras horas do ano novo de 2009. Este dia oferece-nos uma janela para a vida de Oscar: vive com a namorada e com a filha de quatro anos; foi recentemente despedido da mercearia onde trabalhava e decide, como resolução de ano novo, deixar de vender droga. Planeia ir com a namorada e uns amigos festejar a passagem de ano. A reconstrução do dia de Oscar é intercalada com alguns momentos reveladores do seu passado conturbado – foi duas vezes preso por crimes associados a drogas.

Coogler cria em Oscar uma personagem extremamente complexa e matizada, graças parcialmente ao talento extraordinário de Michael B. Jordan. Oscar é uma vítima, mas não é um herói. É amável e simpático, irresponsável e nem sempre honesto. É complicado e com contradições, o que o torna um ser humano, em vez de mais um título de jornal. Outro dos desempenhos a destacar é o da sempre irrepreensível Octavia Spencer, no papel de mãe de Oscar, responsável pela ideia deste ir para a festa de comboio em vez de carro. Octavia Spencer – conhecida pelo seu papel em The Help – não contribuiu para o filme apenas com a sua emotiva interpretação. Foi também co-produtora executiva, tendo sido essencial para o financiamento da obra.

A veracidade da história assegura ainda uma maior carga emocional. Somos relembrados da mesma no começo e no fim do filme, com algumas das imensas imagens captadas por testemunhas no momento do disparo. Observamos também cenas reais dos protestos que se seguiram à tragédia. Com estas recordamos que a história, para além de verdadeira, não é isolada.

Por outro lado, o facto destes acontecimentos serem reais e amplamente divulgados, dá ao filme um certo sentido de inevitabilidade angustiante. A aparente banalidade de cada pequeno momento do dia de Oscar contrasta de forma singular com a fatalidade do mesmo.

Apesar do foco do filme ser (propositadamente) o indivíduo e não o coletivo, Coogler consegue representar o racismo como sendo mais que momentos violentos e chocantes como o de Oscar. O racismo é um problema complexo, integrado na sociedade de forma por vezes subtil. Estas características são especialmente percetíveis nos Estados Unidos, onde a história da escravatura e dos movimentos civis é ainda muito recente e penosa. Um exemplo dessa subtileza surge com Oscar a comprar um postal de aniversário à mãe, escolhendo um com pessoas brancas na capa.

Um filme tocante sobre os conceitos de vida e de morte, Fruitvale Station comove pela forma como não tenta comover, provando que basta contar a história com simplicidade quando esta vale a pena ser contada.

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