Quando Tudo Está Perdido (All is Lost, 2013)
Quando os irmãos Lumière começaram a fazer cinema, filmando situações do quotidiano –por exemplo, operários no seu posto de trabalho -, não imaginariam que, mais de 115 anos depois, alguém voltasse a fazer algo semelhante. Desta vez tivemos direito a uma hora e meia de um homem (Robert Redford) e do seu barco. Problema: o barco encontrava-se à deriva, sem comunicação, pois o rádio estava avariado, e com o casco furado por um contentor de sapatos, que andava à deriva. Os diálogos resumem-se a “Fuck” e a “Fuck, Fuck, Fuck“. Não existem grandes efeitos especiais, apenas uma cinematografia muito bem conseguida e uma história que andou à deriva, à semelhança do barco.
O ponto fascinante desta situação é que o enredo, apesar de aparentemente monótono e sem diálogos – nem mesmo monólogos – consegue deixar quem vê, a antecipar cenários, acompanhando o sofrimento deste náufrago.
Dificilmente percebemos onde o filme quer chegar, nem sabemos se vamos no início, a meio, ou prestes a chegar ao fim. Somos presenteados com um voyeurismo puro sobre a temática preferida de cada um dos nossos vizinhos: o sofrimento dos outros.
Robert Redford está arrebatador, num papel que exige muita contenção e onde cair no erro do overacting seria fácil (e até lhe poderia valer uma nomeação para o óscar). Felizmente, optou por ser fiel àquilo que o papel lhe pedia.
A banda sonora é o barulho do mar em fundo e não poderia ter melhor resultado. Aliás, todos os efeitos sonoros são de um realismo fascinante.
O que falha acaba por ser o facto de, por vezes, como não sabemos onde o “mar” nos leva, somos invadidos por alguma frustração e cansaço. No entanto, isso sucede por pouco tempo, pois, obviamente, J.C. Chandor, não iria realizar um filme em que o mar estivesse calmo o tempo todo. Essa agitação marítima – juntamente com os belos planos deste realizador – deram alguma vivacidade a uma obra potencialmente linear.
Em resumo, contenção é a melhor palavra para descrever Quando Tudo Está Perdido. Despretensioso na forma contemplativa como foi filmado e realista durante todos os seus 90 minutos, a obra nunca empolga demasiado, nem dececiona a pique, mantendo-nos expectantes, a procurar saber mais e mais, e culminando com um final tão fugaz e sem preparação, que se poderá tornar difícil de digerir instantaneamente.