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Filmes da Minha Vida: Doidos por Mary (There’s Something About Mary, 1998)

Bobby Farrelly e Peter Farrelly são uma espécie de Orson Welles da comédia desconchavada não-inteligente: criaram a sua obra-prima, aliás talvez a melhor comédia romântica desconchavada não-inteligente de sempre, e depois nunca mais atingiram a mesma qualidade. Como Orson Welles, limitaram-se a engordar e a ser uma pálida imagem deles próprios.

A questão passa por saber o que torna este Doidos Por Mary tão especial (pelo menos para mim). Resposta: Cameron Diaz.

Sim, admito que o facto de ter passado a minha adolescência iludido que a Cameron inevitavelmente acabaria por sucumbir aos meus encantos (que se baseavam em acne e em humor desconfortável), levava-me muitas vezes a sobrevalorizar os filmes por onde ela passava.

Agora que tento transpor os meus predicados da adolescência para os meus textos (sem a parte do acne), com algum distanciamento consigo perceber que, para além da Cameron, o que torna este filme tão bom é o facto de não se auto-complicar, não tentando ser mais do que aquilo que apresenta. Mostra um humor fácil, sustentado no carisma dos atores e no inusitado da maioria das situações. O facto de a Cameron naquela altura ser a derradeira “girl next door” também ajudou. No entanto, o que serve de cola para o filme é, acima de tudo, a caracterização dos personagens, cada um com tempo para mostrar as suas idiossincrasias.

A premissa é simples; Mary (Cameron Diaz), é uma rapariga pelo qual todos se apaixonam, infelizmente, a lista de pretendentes incluem indivíduos com um caracter duvidoso. E Quem nunca conheceu uma mulher que por ser simpática para todos, faz com que os gordinhos, feinhos e maltrapilhos desta vida achem que têm uma hipótese?

Depois, todos os personagens secundários – obviamente pouco ortodoxos – dão uma vivacidade à obra que nos obriga a rir desconfortavelmente a maioria do tempo, devido aos diálogos obscenamente reais (e contendo um pouco de filosofia de balneário masculino).

No fundo, o charme misturado com o constrangimento das situações criaram uma aura que nunca mais conseguiu ser replicada nos filmes dos irmãos Farrelly – que recentemente realizaram Doidos à Solta 2. Provavelmente, nunca mais vão conseguir criar outra obra deste género. Isto porque, escrever um guião pouco inteligente e conseguir torná-lo numa comédia inovadora, é uma missão hercúlea.

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