Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015)

Combinando o estilo Western com os filmes de género misterioso, o oitavo filme escrito e realizado por Tarantino é um intenso estudo caso sobre as suas personagens e uma homáge aos gloriosos filmes de 70mm.

Quase inteiramente passada no Wyoming, a nossa história obriga oito estranhos a passar um tempo juntos presos no meio de um nevão. Muitos abrigam segredos obscuros e intenções pouco católicas.

Um par de caçadores de troféus – Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e John “The Hangman” Ruth (Kurt Russel) – cruzam os seus caminhos e acabam por partilhar boleia. Ruth está em vias de escortar a prisioneira, Daisy Domergue (Jennifer Lason Leigh), até Red Rock, onde será enforcada por homicídio. No caminho também se junta Chris Mannix (Walton Goggins), a um ex-membro da Confederação que se auto intitula Sherrif de Red Rock.

O nevão ardila Ruth, Daisy, Warren e Mannix no Minnie’s ao lado daqueles que já esperavam que S. Pedro acalmasse o estado das coisas: General Sandy Smithers (Bruce Dern), um cowboy lunático Joe Gage (Michael Madsen), Bob (Dermian Bichir), um mexicano a representar as minorias, Oswaldo Mobray (Tim Roth) e um cavalheiro britânico. Assassinato e mistério para acontecer!

Os Westerns nem sempre foram shoot’em-ups, como o sabedoiro Tarantino obviamente sabe. Os Westerns dos 1950s-‘70s passavam clandestinamente mensagem políticas e The Hateful Eight decidiu adoptar a tradição. O filme de Tarantino é muito sobre a relação entre raças na América pós guerra civil e esse ambiente permite a exploração de muitos assuntos contemporâneos.

Este é discutivelmente o conto de Tarantino mais adulto e com mais nuances até então. Isso não quer dizer, porém, que Tarantino também não se divertiu com o material. Há uma abundância de humor negro aqui (um termo apropriado, dado o espectro do enforcamento agendado que paira sobre toda a história de Daisy), rubricas de Tarantino, e uma anedota contada por major Marquis Warren que o discurso de True Romance e a estória do relógio de bolso de Pulp Fiction como mais hilariante e memorável monólogo no mundo do Quentin.

Há alguns elementos que parecem demasiado familiares aos fãs de Tarantino, com o realizador a canibalizar a sua própria obra (uma pitada de Reservoir Dogs aqui, e outras de Pulp Fiction aqui). No entanto esses sofismas empalidecem em comparação com o conto, em geral, que é bastante tenso considerando que este roadshow dura 186 minutos.

A nível técnico, a cinematografia de  e o uso de 70mm captura a selva congelada do Old West e permite o espectador ver todos os centímetros do Minnie’s Haberdashery naqueles bonitos planos longos. Podes estar com um olho na ação e outro no cigano (ou em qualquer outra personagem porque está vai estar sempre dentro de plano). A banda de sonora Western Spaghetti de Ennio Morricone cumpre o  desígnio e não desilude.

O elenco é brilhante, e em particular Jackson e Goggins que partilham segmento mais interessante do filme. Como feito em Big Trouble in Little Chine, Russel acrescenta um pedaço de John Wayne e Dern consegue encontrar a humanidade não sua velha e mesquinha personagem.