Filmes que se tivessem 2h30 ganhavam óscares: O Substituto (Detachment, 2012)
A brincar se dizem verdades e a verdade é que são raros os filmes que com 1h30 de duração são nomeados para os óscares. Poderá ser coincidência, ou pode ser pelo facto de em hora e meia não caberem as suficientes cenas de nudismo e de choro. O Substituto é uma receita concentrada de choro, violência e, acima de tudo, realidade. Marca também o regresso de Tony Kaye (realiza e assina a fotografia), que em 1998, com América Proibida, nos tinha trazido o tópico da intolerância social. Aqui, mais uma vez, a crueza do vocabulário e das imagens, ao que se junta um final que pretende chocar (quase que como uma metáfora para a sociedade), merecia mais atenção do público e da crítica.
A história centra-se em Mr. Barthes (Adrien Brody), o “melhor professor substituto da zona” (como é descrito), e que deambula de escola em escola até o professor efetivo tomar posse da turma.
Como em todas as histórias que envolvem professores e alunos, obviamente, temos um professor out-of-the-box e alunos de bairros problemáticos, que usam o vernáculo com alguma frequência. Sim, isto não é novidade, nem traz nada de novo. O que é verdadeiramente diferente é a forma como se humaniza, em vez de divinizar, os professores; os seus defeitos, as suas virtudes. Nesse sentido, Mr. Barthes é uma espécie de anti-herói que foi perdendo a capacidade de sentir, que tem uma conduta dúbia e a expressividade de uma gárgula. Com o desenrolar do filme, vamos compreendendo a sua revolta interior e empatizando com ele. O que é de salutar aqui, é a forma como a profissão de professor é desconstruída, conseguindo expor a dormência de uma classe, que foi perdendo o rumo, não por falta de vocação, mas devido ao sistema escolar instrumentalista, com uma agenda que vai para lá do dever de ensinar.
Adicionalmente, a forma quasi-documentário como é filmada, faz-nos acreditar na ficção, trazendo-a para a nossa realidade, para a nossa escola. O facto é que o filme, construído com base em testemunhos fictícios, soa a verdade, o que acaba por ser assustador, dada a realidade que é representada.
O final, mais ou menos previsível, tem impacto semelhante ao desfecho de América Proibida; é sintomático, destapa uma ferida na sociedade, não dando as respostas.
As respostas ficam do nosso lado quando o filme acaba, cabe-nos a nós prolongarmos aquela obra, procurando evitar a dormência e parar de achar que o que está errado, não é necessariamente errado, por ser padrão.