Grateful Dead (Gureitofuru deddo, 2013) – MOTELx
Não é fácil adicionar loucura a um filme. O problema prende-se pelo facto da insanidade ser dificilmente controlável. Quando falamos no MOTELx falamos em desvario, exploitation, gore, sadismo; e desejavelmente queremos ver todos esses ingredientes serem domados com mestria, sabendo de antemão que o resultado não agradará a todos.
Eiji Uchida e o seu Grateful Dead leva-nos a muitos lados, progressivamente mais desconcertantes, mas a loucura é controlada, e resulta em todas as suas frentes.
Nami (Kumi Takiuchi), a protagonista, remete-nos para a sua infância, profundamente solitária, e onde vivia com os seus pais que pouco, ou nenhum, interesse tinham nela; e a sua irmã mais velha, que apenas queria fugir. Este é o primeiro retrato de uma sociedade que o filme tenta reproduzir: a profunda alienação que mais tarde gera uma dualidade, a alienação da juventude, e a marginalização da 3ª idade que, numa realidade transversal ao Japão, é deixada muitas vezes ao abandono, até que “finalmente” morrem.
Este “finalmente morrem” é essencial na vida de Nami, que se especializou num voyeurismo, inicialmente inócuo e inofensivo, dedicado à observação de solitários, a maioria em final de vida.
Esse hobbie aparentemente inocente, vai revelando a sociopatia que Nami desenvolveu em criança. No fundo, ela só quer ser o centro da vida de alguém, mesmo que as razões envolvam caminhos mais sombrios. Nami acaba por revelar-se uma espécie de anti-heroína, que devíamos odiar, mas por quem não hesitamos em nutrir alguma simpatia, devido à sua situação.
Aqui entramos numa segunda parte da obra, mais dedicada a um género de exploitation e gore, capaz de fazer corar até o mais insensível dos espectadores. Começamos a entrar por caminhos tão negros, quanto inesperados, fazendo lembrar um pouco a obra de um outro cineasta japonês, Takashi Miike, num ritmo ideal para o ambiente MOTELx.
E assim deambulamos entre a crítica social – falando entre outros temas na religião cristã no seio da sociedade japonesa, e o horror e sadismo característicos do cinema que se faz naquele país – e o sadismo puro e duro.
A intensificar o ambiente, por vezes obrigando quem vê a soltar gargalhadas sadísticas, está a banda sonora, maioritariamente com música clássica, que quase nos remete para a obra de Sion Sono. No entanto Eiji Uchida encontra o seu espaço muito pessoal, para desenvolver o filme que ele desejava. Infelizmente, parece estar marcado somente para fazer o circuito de festivais. Apesar da temática, este filme merecia um público mais alargado. Absolutamente imperdível!