John-Wick-Movie (11)

John Wick (2014)

John Wick traz uma lufada de ar fresco aos filmes de ação que são encabeçados por uma personagem forte e determinada. Recentemente o filme de Liam Neeson – O Caminho Entre o Bem e o Mal – trouxe ao espectador um registo muito semelhante ao que é agora proposto por John Wick. Devido à proximidade temporal entre os dois é inevitável fazer certas comparações (a não ser que estejamos a falar de um espectador acérrimo de filmes de ação que obviamente irá a todos). O facto é que ambos entretêm o espectador, ambos são relativamente livres de um sentido ou uma reflexão mais profundos e ambos usam e abusam de cenas de lutas, tiroteios e algum sangue. Se por um lado o filme de Neeson até tem contornos mais investigativos até ao culminar da ação, por outro é bastante simples nessa sua faceta de suspense, oferecendo apenas o mínimo ao espectador. No caso de John Wick temos um filme mais cru, mas que também tem mais qualidade – no que toca a obras que se baseiam na ação este é um resultado realmente agradável.

O ponto principal e que determina todo o filme é: John Wick é um badass. Não ligeiramente, não quando faz cara de mau e não apenas numa certa comunidade. John Wick é a estrela de rock das pessoas perigosas no submundo do crime. Algo tão simples é transmitido de forma tão eficaz que potencia a expectativa para se saber mais sobre a personagem –sempre rodeada de algum mistério e acerca da qual se vai sabendo quase tudo através do relato de outras personagens – e, simultaneamente, ao manipular este elemento de forma subtil é possível oferecer ao expectador momentos muito passageiros, mas muito engraçados, de comédia. São estas injeções discretas de comédia que se encaixam perfeitamente na narrativa que têm realmente piada e das quais é impossível não rir. Um elemento que acompanha e potencia frequentemente as cenas de ação é a banda sonora. Por vezes peca por se fazer notar em demasia como em cenas em que a câmara alterna entre duas ações distintas e a música vai variando ou desaparecendo nesse ritmo imposto pela mudança do que se está a ver. Resulta bem, sem dúvida, mas se fica na memória provavelmente é porque foi evidente demais.

O elenco apesar de não ser particularmente alargado é competente, Keanu Reeves surpreende pela positiva com um desempenho forte que ele faz resultar apesar de até não ter tantas falas quanto isso, no entanto é no ramo do não-verbal que Reeves se mostra realmente assustador, dando vida a um John Wick com o qual ninguém se quer cruzar. Alfie Allen (Theon Greyjoy em Game of Thrones) é uma surpresa engraçada para os fãs da série. Curiosamente faz um papel exatamente igual ao que tem feito nos últimos 3 anos – filho mimado de um senhor poderoso que ele tenta mas não consegue agradar. Na realidade a semelhança entre as personagens foi chocante e algo infeliz pois impediu o público de ver aquilo que Allen é capaz de fazer num registo diferente, algo que seria preciosíssimo se este jovem ator tivesse ambições de dar o salto permanente para o cinema ou simplesmente deixar a sua marca a longo prazo na indústria. Michael Nyqvist e William Dafoe são dois nomes de peso que emprestam a sua enorme experiência e qualidade a esta produção e não desiludem. Nyqvist em particular tem um papel de grande relevo sendo provavelmente a personagem com mais linhas no filme e, curiosamente, nunca se torna cansativo ouvi-lo, tal é a presença que tem em frente à câmara.

Por fim vale a pena lembrar, em jeito de nota, que a qualidade de John Wick que é admirada até pelos seus inimigos não é o facto de ser fortíssimo, ter um treino militar mortal ou qualquer outro tipo de quase superpoder, mas sim a sua capacidade de se focar. Esta pequena diferença (apesar de Wick usar armas, lutar como um ninja e derrotar adversários muito melhor equipados que ele com relativa facilidade) faz com que se veja a personagem de outra maneira: este não é um homem abençoado com qualquer tipo de talento a roçar a genialidade, nem teve um passado de treino intenso e preparação que lhe permite fazer o que faz. Simplesmente é um sobrevivente, extremamente focado e competente naquilo a que se propõe.

Colherada Final

Veredito

John Wick é um badass. Este é um filme em que a personagem principal, apesar de todas as tareias que dá, é diferente e algo original. No seu todo é uma obra com uma execução técnica e criativa de qualidade elevada, sendo provavelmente das surpresas mais agradáveis dos últimos tempos devido às expectativas relativamente baixas.

7/10

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