Encalhados (Laggies, 2014)
Há filmes que saem connosco do cinema. Ao jantar, em vez de apreciar a lasanha caseira, estamos a pensar naquele filme, a conduzir podemos trocar as saídas ou até passar um ou outro sinal porque estamos a pensar naquele filme, na mercearia trocamos o pacote de açúcar pelo da farinha porque não conseguimos por de parte aquele filme. O dia é passado num estado de automatismo e negligência porque a nossa cabeça só tem espaço para aquele filme.
Depois há filmes que nos deixam completamente em branco e a questionar o que estivemos a fazer durante hora e meia sentados numa sala escura cheia de cadeiras. Laggies é dos últimos.
Mesmo para quem gosta e procura este género, comédias pseudo-dramáticas sobre amadurecimento e autodescoberta, Laggies pouco ou nada acrescenta ao que já foi feito. Diz-nos que não são só as cobras que mudam de pele, as pessoas também passam por mudanças; a personalidade é uma obra em permanente construção e é importante, entre todas as experiências e mudanças por que passamos, não perder de vista quem somos e o que queremos fazer, não nos deixarmos governar por algo que já não somos ou por escolhas que fizemos no passado.
Pronto, já está. A mensagem é esta, já a sabem, já não há necessidade de ver Laggies.
Não, a sério! É mesmo só isto.
Keira Knightley interpreta Megan, um daqueles casos tão comuns de pessoas que só cresceram em idade. À sua volta, todos parecem mais ou menos decididos a seguir o percurso normal de uma vida de adulto – ter um emprego estável, casar e ter filhos. Mas (e utilizando aqui a eloquente expressão cunhada pelo júri do Ídolos) Megan ainda não encontrou a sua praia. Como é que ela a descobre? Através de uma série de situações caricatas com uma adolescente ousada e um quarentão engraçadito como sidekicks. Junta-se um pouco de romance e está contada esta história e mais uma centena de outros filmes idênticos.
Sim, Sam Rockwell, Keira Knightley e Chloe Grace Moretz são dois atores e meio espetaculares e multifacetados que se adaptam facilmente a qualquer género e raramente desapontam. Mas não chega. A história é enfadonha, as personagens são mal exploradas e a tentativa de nos distrair, como num circo pobre, com palhacinhos exagerados ou personagens secundárias excêntricas só serve para evidenciar ainda mais os seus defeitos.
Laggies não tem paixão nem emoção. O que tem é uma grande falha a nível de escrita, um tom apático e monótono e muitas oportunidades de despertar interesse e comover o espetador completamente desperdiçadas.