Destaques do Mês
  • The Conjuring 2 – A Evocação
  • Sugestão para Domingo à Tarde #36: Out of Africa (Sydney Pollack, 1985)
  • A Rainha do Deserto (Queen of the Desert, 2015)
Data
24 August 2016
(Left to right)Ê Rachel McAdams as Sacha Pfeiffer, Mark Ruffalo as Michael Rezendes and Brian dÕArcy James as Matt Carroll in SPOTLIGHT. Ê Photo credit:Ê Kerry Hayes / Distributor:Ê Open Road Films

O Caso Spotlight (Spotlight, 2015)

O novo trabalho de Tom McCarthy retrata o trabalho de quatro tipos muito dedicados da equipa de jornalismo de investigação Spotlight do Boston Globe. Estamos nos anos 70, e na cidade de Boston rebenta um escândalo relacionado com um padre pedófilo que molesta algumas crianças que frequentam a sua igreja. Este caso chama a atenção de Mark Rezendes (Mark Ruffalo), Walter Robby Robinson (Michael Keaton), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James) que, incitados por Marty Baron (Liev Schreiber), o recém-colocado editor do Globe, pegam no caso e desenvolvem uma investigação em torno de uma rede de abusos sexuais a crianças por parte de padres da Arquidiocese de Boston.

Ao longo deste filme, assistimos ao progressivo aprofundamento da investigação, que vai revelando um monstro muito maior do que as personagens (e nós) se atreveriam a imaginar inicialmente. Investigando indícios do passado para desvendar o presente, a equipa de jornalistas compromete-se tenazmente em publicar o caso, recorrendo à ajuda dada pelo testemunho de vítimas da rede de abusos sexuais e do advogado de grande parte delas. Para além disso, testemunhamos o envolvimento cada vez maior da equipa de jornalistas no seu propósito de desvendar a terrível verdade, e conseguimos sentir a sua devoção, mesmo perante pressões externas com que, previsivelmente, se vê confrontada, como advogados que encobrem os clérigos e membros da Arquidiocese que querem abafar o caso. Merece também destaque o papel desempenhado por Marty Baron (Liev Schreiber), o recém-colocado editor do Globe, que insiste que os jornalistas da Spotlight desvendem a rede, o sistema de abusos sexuais, e não apenas os nomes dos padres ofensores.

Como referido anteriormente, este filme, que está na corrida aos Óscares, é mais um exemplo da frequente (e relativamente segura) aposta em histórias verídicas. Essa aposta justifica-se pelo simples  facto de que gostamos disso, de uma representação estética e psicologicamente digna e poderosa do passado, mesmo que a realidade exibida habite muito longe de nós. Neste filme, conseguimos acompanhar muito proximamente o trabalho louvável da equipa Spotlight, e conseguimos construir uma conexão com a mesma, vendo-nos, sem disso talvez nos apercebermos, a torcer por ela. Contudo, aquilo que se ganha com essa proximidade com a investigação, perde-se, a meu ver, com a distância que se cria em relação às personagens, que assumem um papel secundário face à história em si. Assim, apesar de retratar com adequada intensidade o desenrolar do enredo, o filme esvazia demasiado os seus intérpretes (aviso: a seguinte observação é muito suspeita vinda do autor deste texto), e faz-nos querer sentir mais as angústias dos jornalistas. A única excepção (e, faça-se justiça, bem conseguida) reside na cena em que Mark explode com Robby, protestando acerca de uma decisão deste em relação à investigação.

Por fim, aquilo que, fundamentalmente, mais impressiona: a banalidade do mal, no espaço e no tempo. A banalidade dos abusos sexuais a crianças por parte daqueles de quem menos (e por isso mais?) se esperaria. A hipocrisia gritante daqueles que guiam a Igreja Católica e a cooperação vergonhosa de advogados cujo principal princípio são os primeiros dígitos do número das suas contas bancárias. Tudo isto nos faz questionar, entre outras dezenas de coisas, na perturbabilidade sexual dos padres, que arruínam pequenos grandes mundos e, com isso, vão infectando a fé dos crentes e a esperança (de decência) dos que não o são.

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