Em Nome do Pai (In the Name of The Father, 1993) – Filmes de Natal Spoon
Em 1991 o Irlandês Gerry Conlon escrevia o livro biográfico Proved Innocent. Um livro que de natalício tinha (aparentemente) apenas a história fria e gélida passada entre a Inglaterra e a Irlanda do Norte, numa altura em que os ataques bombistas delineados pelo IRA – o Exército Republicano Irlandês – imperavam. Gerry, um irlandês de origens humildes e de índole duvidosa, conseguiu estar à hora errada e no local errado. Tendo vivido uma infância feliz, ainda que modesta, passou a fase final da sua adolescência a dedicar-se a pequenos furtos. Com o objetivo de fugir da violenta Belfast, parte rumo a uma vida melhor em Inglaterra. Infelizmente, em 1974, foi, juntamente com mais três pessoas, indiciado pelos ataques bombistas que vitimaram 5 pessoas, num caso conhecido como Guilford 4.
Antes de prosseguirmos, é provável que a maioria ainda não tenha conseguido associar o tema da obra ao natal. Afinal de contas, em nenhum momento surge um Pai Natal com uma coca-cola, ou alguém sozinho em casa. O que surgiu foi um filme, em 1993, em que Gerry Conlon era interpretado pelo, talvez, melhor ator vivo da atualidade, Daniel Day-Lewis.
Posta toda a história verídica de parte – em que Gerry passou 14 anos na prisão a tentar provar a sua inocência –, não é coincidência esta obra se intitular Em Nome do Pai (numa tradução literal do título original In the Name of the Father). Vamos pôr também toda a glorificação artística e brilhantismo técnico do filme (foi nomeado para 7 óscares). Esqueçamos também o facto de em uma das cenas surgir um galhardete do Sport Lisboa e Benfica na imagem (o Spoon não tem clube, mas o autor do texto tem). Esta história fala num dos mais bonitos laços que existe na vida humana: o elo entre um pai e um filho. Guiseppe Conlon viajou para Inglaterra, passando 13 anos a tentar provar a inocência do seu filho, tendo estado preso durante esse período.
A relação pai-filho entre estes dois personagens estava longe de ser a ideal, Gerry culpava o pai por tudo o que de mal lhe acontecia, Guiseppe não sabia como se ligar ao filho. No fim, imperou a conexão emocional inapta.
Deixando tudo o que de comercial é o Natal, pondo todos os enfeites, árvores, refrigerantes, presentes; esta é uma época de emoções, é uma altura de redenção, de perdoar e ser perdoado. Em Nome do Pai encarna todas essas características. Nós sentimos o desespero de um pai, com a saúde débil, a tentar salvar o seu filho, sem pedir nada em troca. Depois, conseguimos ver Gerry fazer as pazes consigo próprio e aceitar-se. A culpa, que antes o guiara, transforma-se paulatinamente em amor pelo seu pai.
“Amor”, esta palavra difundida absurdamente e levianamente nas mais diversas telenovelas, não é referida uma única vez durante o filme, no entanto sente-se. Em Nome do Pai é uma história de silêncios emocionais e em que as frases escondem sentimento em todas as entrelinhas.
Se é um filme típico de natal? Não. Mas típico no Natal, é tudo aquilo que é supérfluo. Em Nome do Pai, por outro lado, trata daquilo que verdadeiramente interessa. Por isso, o Natal é quando o Spoon quiser. E que seja agora Natal (que entre o coro de Santo Amaro de Oeiras!).